A pandemia trouxe uma maior clareza sobre a urgente necessidade de inovar e acelerar as transformações na saúde no Brasil, especialmente no tocante à atenção primária à saúde (APS) — ela é o acesso da população aos cuidados médicos, sendo responsável por atender de 80% a 90% das necessidades de atendimento médico de um indivíduo ao longo da vida, de acordo com a Organização Pan-americana da Saúde (OPAS-Brasil).
Em síntese, isso ocorre por ter uma oferta abrangente de serviços que vão da promoção básica de saúde e prevenção ao monitoramento de doenças crônicas e cuidados paliativos. Na prática, é eficaz tanto ao lidar com as causas de doenças e riscos à saúde quanto em responder aos desafios emergentes que podem ameaçar o futuro da população.
Existem, de forma bastante resumida, três elos desta dinâmica que envolve a APS: em uma ponta, a população brasileira — que ficou ainda mais vulnerável nesse cenário pós-pandemia; em outra, as inovações tecnológicas que têm sido criadas por empreendedores de todo o Brasil; no centro, temos de considerar os serviços públicos, que podem se beneficiar de tais inovações para eficiência na atuação.
Diante do tamanho dos desafios que encaramos no tema da saúde, é nítida a importância de conectar tais inovações com os territórios para avançarmos a agenda da saúde.
O fato é que, ainda hoje, há um enorme distanciamento entre esses elos. Fora isso, do lado dos negócios, existem entraves enormes no que tange a criação de modelos viáveis para este segmento e o acesso a recursos financeiros para testar as soluções em campo e garantir boa articulação com os agentes públicos.
Para fazer essa ponte, a Plataforma de Inovação Aberta em Atenção Primária à Saúde selecionou três healthtechs para testarem soluções em campo em uma primeira edição do programa.
Resultado da coalizão da Artemisia e Umane — com o apoio do Banco Interamericano de Desenvolvimento (BID) –, a iniciativa destinou R$ 100 mil para cada uma delas investir no aprimoramento de soluções voltadas a melhorar a qualidade do atendimento de saúde prestado em municípios. Para exemplificar a potência das soluções, trago detalhes da epHealth.
Fundada em 2015 por Pedro Marton Pereira e Paulo Sergio P. Pereira, a epHealth tem se aprofundado na atuação da saúde primária. A plataforma de dados foi criada para otimizar o cotidiano dos profissionais de saúde e oferecer às prefeituras uma solução assertiva para o mapeamento populacional: coleta, análise e gestão de dados — um dos grandes desafios do setor da saúde.
No cerne da empresa, o propósito de fortalecer o elo entre o Estado e os cidadãos, promovendo impacto social com um sistema de saúde seguro e promissor. Na essência, a empresa oferece soluções inteligentes e acessíveis para minimizar os entraves do setor, contando com o apoio de tecnologia de ponta.
A plataforma é composta por:
epSocial: aplicativo de uso dos agentes de saúde, de endemias e de saúde indígena;
epPro: solução SaaS, em nuvem, para uso de gestores de saúde em geral, com recursos de integração com sistemas do Ministério da Saúde e dos demais sistemas de saúde em geral;
epYou: aplicativo de uso dos indivíduos, permitindo autogestão dos dados de saúde, incluindo medicamentos, registros de vacinas etc. e comunicação em mão dupla com as equipes de saúde;
epScience: solução SaaS, em nuvem, para execução de pesquisas científicas que analisam e avaliam condições gerais para melhorar o acesso a medicamentos e tratamentos por parte da população geral.
No programa, com a implementação de um piloto em campo, a healthtech teve como foco utilizar os serviços que desenvolve para fortalecer a comunicação direta dos profissionais de saúde, especialmente os agentes comunitários, e gestores públicos com a população. Além disso, melhorar a qualidade dos dados para garantir a unicidade e validade de cadastros de indivíduos.
Entre os resultados dessa ação, foram 180 profissionais públicos de saúde capacitados e impactados diretamente com a tecnologia e houve a correção dos cadastros da população, chegando a aproximadamente 99% de cadastros validados no território (dos munícipes maiores de 18 anos) onde aconteceu o piloto. Além disso, aproximadamente 98% das divergências de cadastros passaram a ser corrigidas automaticamente por ciclo de verificação criado pela empresa.
A motivação da Plataforma de Inovação Aberta em Atenção Primária à Saúde é que novos arranjos sejam construídos para que as soluções conquistem escala e cheguem à população em situação de vulnerabilidade social e econômica.
O desafio é enorme, mas é preciso seguir com os esforços que tragam avanços significativos na qualidade dos serviços oferecidos à população usuária do SUS.
* Maure Pessanha é empreendedora e presidente do Conselho da Artemisia, organização pioneira no apoio a negócios de impacto no Brasil. Texto original publicado no Blog do Empreendedor — Estadão PME.