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Franquia social transforma resíduos em oportunidades

Postado em 24 junho 2024

[Foto: Roger Koeppl, da YouGreen: cooperativas profissionais atraem empresas — Foto: Silvia Zamboni/Prática ESG]

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YouGreen foi idealizada para ser um laboratório de experiências em coleta seletiva e gestão de resíduos; com eficiência operacional e excelentes práticas, o negócio de impacto deu origem a uma franquia social

Quase 80 milhões de toneladas de resíduos sólidos urbanos são gerados, anualmente, no Brasil. Para se ter uma ideia do volume que isso representa, esse montante seria suficiente para encher de lixo dois mil estádios do Maracanã. O lixo excessivo e o esgotamento de recursos naturais são alguns dos grandes desafios ambientais do nosso tempo — e, também, consequência de mais de um século de atividade econômica negligente às limitações de recursos do planeta. Diante da gravidade da situação, a Economia Circular tem se consolidado como uma via possível, entretanto, ela demanda uma mudança sistêmica que desafia as sociedades a substituir a lógica de produção–consumo–descarte para um novo modelo produtivo.

Pensar no resíduo como um recurso valioso é um dos pontos de partida para ativar a circularidade da economia e, no Brasil, significa parar de “enterrar dinheiro” — e enxergar oportunidades de negócio, de empregos e de novos mercados dentro da Economia Verde. Essa visão estratégica está no cerne da iniciativa de Roger Koeppl e um grupo de 21 profissionais.

Fundada em 2011, a YouGreen trabalha em frentes como gestão integrada e coleta de resíduos, logística reversa, venda de recicláveis, conscientização, entre outras. Diferente da maioria das cooperativas, o negócio encontrou um modelo sustentável, lucrativo, com base nos princípios cooperativistas. Na prática, um dos diferenciais é a profissionalização dos serviços: na logística da coleta, por exemplo, a agenda é programada pelos clientes; há rastreabilidade do material coletado — todo o material recebe uma etiqueta com código de barras que acompanha o resíduo até se tornar um fardo prensado, pronto a ser destinado para recicladores, todos homologados por um processo próprio da Cooperativa –; e o cliente recebe relatórios sobre quanto e quais materiais foram descartados nas unidades, bem como o impacto ambiental evitado, como emissões de carbono, árvores preservadas etc.

O empreendedor conta que na jornada do negócio, foram conquistando prêmios, editais e reconhecimento pelo trabalho socioambiental. Hoje, conduzem uma coleta seletiva com faixa de aproveitamento acima de 95%, porque há o controle da origem. “No nosso recebimento cada uma das fileiras de material é um cliente e, dessa forma, conseguimos aproveitar o reciclável mais do que outras cooperativas. O catador aqui está ganhando três vezes mais do que em outras partes do Brasil. Com vários indicadores, conseguimos provar que trabalhar em cooperativa é um bom negócio”, afirma.

Filho de uma auxiliar de enfermagem e de um aposentado por invalidez, Roger Koeppl nasceu na periferia de São Paulo, na Vila Ede, bairro da Zona Norte. De todos os privilégios que teve, conta, o financeiro não estava entre eles. Aos 12 anos, começou a trabalhar e aos 15 anos já era um funcionário CLT. Planejador, depois de fazer carreira em grandes empresas, teve uma experiência como voluntário na Cruz Vermelha e passou a estruturar o plano de se tornar empreendedor. Ao ouvir falar da aprovação de uma nova lei de Política Nacional de Resíduos Sólidos, que trazia a obrigatoriedade de logística reversa no Brasil, entendeu que ali estava uma oportunidade.

“Esse era um tema que eu tinha trabalhado em uma experiência profissional anterior. Passei a pesquisar melhor o assunto, sobretudo a demanda de incluir os catadores nas soluções. Na Vila Ede, comecei a conversar com alguns desses profissionais e fui visitar uma cooperativa. E me senti muito útil naquele lugar, porque era um ambiente muito caótico, mas que possuía uma felicidade no ar, produzida pelas pessoas que estavam trabalhando. Comparei com a minha desmotivação em trabalhar em grandes empresas; aquilo me impressionou demais”, conta o empreendedor que teve nessa vivência a motivação para conhecer mais sobre o cooperativismo.

O empreendedor conta que a YouGreen provou hipóteses de como trabalhar com excelência e, ainda, como ajudar o Brasil a mover os ponteiros da desigualdade. “O Brasil precisa reciclar mais; a escala que o país pode atingir é gigantesca. E para auxiliar esse crescimento, fazer consultoria em cooperativas não seria suficiente; aí, veio a ideia das franquias sociais. Começamos a sistematizar os aprendizados obtidos tanto na minha jornada pessoal quanto na da YouGreen. Ao compartilhar a ideia com alguns clientes, logo conseguimos um patrocinador, pois no modelo quem banca a franquia social é sempre esse terceiro “, conta. Roger acrescenta que atualmente é CEO da Green Franquias, que conta com unidades em Manaus; São Paulo (capital, Ibitinga, Campinas e Guarujá); e no Rio de Janeiro (Duque de Caxias).

Como um dos principais impactos positivos gerados, ele destaca o trabalho de transformar resíduos em oportunidades. “O resíduo é um problema que não está resolvido definitivamente em nenhum lugar do mundo, mas na YouGreen conseguimos transformá-lo em oportunidade, Conseguimos provar a hipótese de que uma Gestão de Resíduos feita por uma Cooperativa de catadores organizada produz resultados consistentes e satisfatórios, agora precisamos expandir este modelo Brasil afora. Nosso eixo de atuação fomenta a inserção e a permanência dos catadores no mercado de trabalho. Criamos um processo em que temos imigrantes refugiados em quase um terço da cooperativa. E como sócios e cooperados, temos egressos do sistema penitenciário e pessoas em situação de abrigo. Temos cinco cooperados estudando no Ensino de Jovens e Adultos, ou seja, várias frentes de qualificação e inclusão produtiva e social”, finaliza.

Maure Pessanha é empreendedora e presidente do Conselho da Artemisia. Texto publicado originalmente no Blog do Empreendedor — Estadão PME.

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