[Imagem: World Economic Forum | Global Alliance For Social Entrepreneurship]
Receitas geradas pelos negócios sociais são maiores do que as da indústria da moda e duas vezes superiores às da publicidade.
Em sua recente edição, o Fórum Econômico Mundial apresentou a pesquisa State of Social Enterprise 2024, que constitui o primeiro conjunto de dados globais com uma estimativa do tamanho e do escopo das empresas sociais no globo.
Desenvolvido em parceria com a Aliança Global para o Empreendedorismo Social, o levantamento aponta que existem cerca de 10 milhões de empresas dessa modalidade, gerando cerca de US$ 2 trilhões anuais de receita — e, ao mesmo tempo, produzindo impacto positivo para os países. As receitas geradas pelos negócios sociais são maiores, por exemplo, do que as da indústria da moda e duas vezes superiores às da publicidade.
No que diz respeito à geração de empregos, o levantamento mostra que as empresas sociais criaram 200 milhões de postos de trabalho em diversos setores — da agricultura aos serviços financeiros, passando por saúde, educação, habitação, tecnologia assistiva, soluções verdes e inteligência artificial.
Em contrapartida, a necessidade de apoiar os empreendedores é urgente: há uma demanda por financiamento da ordem de US$ 1,1 trilhão. Um dado relevante é que as mulheres lideram um a cada dois negócios, ou seja, há equilíbrio de gêneros; nas empresas convencionais, de acordo com a pesquisa, essa proporção é de uma a cada cinco empresas.
De acordo com o Fórum Econômico Mundial e a Aliança Global, o empreendedorismo social se tornou uma indústria consistente. Ao analisar os dados disponíveis em mais de 70 países — que representam 83% da população global –, incluindo o Brasil, a pesquisa explora a possibilidade de essa modalidade representar 2% do Produto Interno Bruto (PIB) global.
Nos critérios norteadores do levantamento — sobre o que é um negócio social –, embora existam definições e classificações diferentes nos países pesquisados, a Aliança Global considerou evidências como:
- o propósito (existem para resolver um problema social e/ou ambiental);
- o modelo de receita autossustentável;
- a opção por estruturas jurídicas e financiamento que protejam o propósito em longo prazo;
- a priorização do propósito, das pessoas e do planeta em detrimento do lucro nas decisões operacionais e estratégicas;
- e a decisão de reinvestir a maior parte de qualquer excedente.
Para conduzir o levantamento, a Aliança Global para o Empreendedorismo Social avaliou informações disponíveis em pesquisas nacionais, regionais e globais da última década. A investigação agrega os dados coletados em atividade econômica, número de empresas e empregos criados, alinhamento aos Objetivos de Desenvolvimento Sustentável (ODS), barreiras para o crescimento, entre outros.
Embora consistente, a pesquisa traz um alerta sobre as lacunas significativas de dados disponíveis; há países que falham totalmente em reunir informações sobre os negócios sociais. Diante disso, a recomendação da Aliança e do Fórum é que haja mais investimento para a produção de uma infraestrutura de dados sólidos.
Por último, ressalto uma reflexão muito pertinente trazida pela pesquisa:
“Os dados reconhecem a contribuição dessas empresas para o progresso social e a prosperidade econômica, entretanto, o trabalho dos empreendedores sociais pode estar sujeito a assédio, à opressão política ou mesmo a situações de risco de morte, à medida que esses empreendimentos começam a atingir uma massa crítica e a impulsionar a mudança dos sistemas”.
Acredito ser extremamente pertinente esse alerta e espero que a produção de pesquisas de qualidade possam tirar o empreendedorismo social e os protagonistas dessa importante indústria da invisibilidade; que esses profissionais possam ter segurança para combater as desigualdades sociais e econômicas em todo o globo.
Um resumo da pesquisa State of Social Enterprise 2024 está disponível no site do Fórum Econômico Mundial.
- Maure Pessanha é empreendedora e presidente do Conselho da Artemisia. Este artigo foi publicado originalmente no Estadão PME.