O Relatório de Capital Humano Brasileiro — Investindo nas Pessoas, conduzido pelo Banco Mundial, alerta que o País tem desperdiçado talentos por não oferecer saúde e educação de qualidade. Segundo o documento, uma criança brasileira, que nasceu em 2021, perderá, em média, 46% do seu potencial total devido a essa ineficiência; para as que nasceram em 2019, esse percentual era de 40%.
Criado para estimar as perdas ou o acúmulo de habilidades pelos indivíduos com idade até 18 anos, o Índice de Capital Humano (ICH) é um indicador que considera as condições educacionais e de saúde desfrutadas pelos brasileiros; com ele, é possível enxergar as enormes diferenças regionais e as desigualdades locais na acumulação do capital humano.
Os diferentes “Brasis” são desnudados pelo estudo. As crianças nascidas nos municípios do Norte e Nordeste em 2019, por exemplo, só desenvolverão metade do talento potencial delas; dez pontos porcentuais a menos que a média de uma criança do Sudeste, de acordo com Ildo Lautharte, coautor do relatório do Banco Mundial. Por outro lado, nas últimas décadas, os Estados nordestinos registraram o maior crescimento do capital humano do País, mas cabe ressaltar que partindo de níveis relativamente baixos.
O estudo aponta que o crescimento de ICH mais notável foi encontrado nos Estados de Pernambuco, Alagoas e Ceará — respectivamente, aumento de 25,6%; 20,9%; e 20,9%. O Sul e o Sudeste apresentaram crescimento semelhante, e a região Norte teve o pior desempenho com municípios do Amapá, de Roraima e Tocantins com os menores ganhos no período entre 2007 e 2019. A análise aponta que as crianças da região acumulam um capital humano que cresce em ritmo mais lento do que as demais do País.
Uma constatação trazida pelo relatório é que o Índice de Capital Humano das pessoas brancas, no Brasil, aumentou em um ritmo mais acelerado do que de qualquer outro grupo racial. Entre 2007 e 2019, o aumento médio foi de 14,6%; entre os afrodescendentes e indígenas, o aumento foi de 10,2% e 0,97%, respectivamente.
De acordo com Pablo Acosta, coautor do levantamento e coordenador do Programa de Desenvolvimento Humano do Banco Mundial, se a trajetória de crescimento se mantiver como a observada no período, o Brasil levará aproximadamente 60 anos para atingir patamares de capital humano que foram alcançados por países desenvolvidos em 2019.
Esse “mapa de muitos Brasis” mostra que os avanços do ICH têm sido lentos, desequilibrados e desiguais. Mas, qual o motivo de falar sobre esses dados em uma coluna de empreendedorismo de impacto social e ambiental? O principal motivador é a urgência de a nação endereçar soluções reais para combater a desigualdade de maneira concreta, sustentável e inovadora.
Embora não seja a única resposta para resolver problemas sociais complexos e multifatoriais, essa modalidade de empreendedorismo dialoga muito com o momento que vivemos. Costumo dizer que, se antes da pandemia, a atuação de empreendedores e empreendedoras sociais já era muito importante na construção de novos futuros mais inclusivos e prósperos para o Brasil, hoje ganha uma camada profunda de relevância.
Vale ressaltar que os negócios de impacto são constituídos por empresas que oferecem, de forma clara e intencional, soluções para endereçar um problema social e/ou ambiental por meio de sua atividade principal. Atuam de acordo com a lógica de mercado, com um modelo de negócio que busca retornos financeiros e se comprometem a medir o impacto que geram.
Em resumo, os negócios de impacto têm por critérios a intencionalidade de resolução de um problema social e/ou ambiental; a solução de impacto é a atividade principal do negócio; a busca de retorno financeiro — operando pela lógica de mercado –; e têm compromisso com o monitoramento do impacto gerado.
Hoje, mais do que nunca, precisamos de uma mudança real e urgente, capaz de impactar positivamente a vida das pessoas e do planeta. Acreditamos que para mudar o País e contribuir para a resolução de problemas é necessário criar um ambiente favorável à mudança — mobilizando pessoas e recursos, potencializando negócios, articulando investimentos, criando pontes e gerando conhecimento baseado em evidências.
Compreendo que os negócios de impacto não são uma “bala de prata” para combater as desigualdades brasileiras, mas acredito que eles possam ser ferramentas poderosas para apoiar essa transformação social, especialmente à luz do contexto econômico do Brasil.
- Maure Pessanha é empreendedora e presidente do Conselho da Artemisia. Texto publicado originalmente no Blog do Empreendedor — Estadão PME.
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