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No livro Inteligência Artificial, o ex-presidente da Google China, Kai-Fu Lee — um dos maiores especialistas globais em inovação tecnológica –, descreve como o diagnóstico de um câncer em estágio avançado, em 2013, o guiou em uma jornada de profundo questionamento sobre a “ética quase fanática” que norteava a própria relação com o trabalho, pensou sobre o legado que deixaria e os rumos da inteligência artificial em um futuro próximo.
Nessa reflexão, ele se perguntou sobre como a tecnologia poderia ser utilizada para resolver alguns dos maiores problemas sociais: a desigualdade, a miséria e a dificuldade de acesso equânime à educação de qualidade. As epifanias desencadeadas com esse confronto pessoal trouxeram novas percepções de como os seres humanos podem coexistir com os avanços tecnológicos, como a aplicação da IA na saúde, por exemplo, pode levar o setor a um outro patamar.
Um dos indícios desse potencial está expresso nos resultados da pesquisa conduzida pelo MIT Technology Review Insights em parceria com GE Healthcare — com mais de 900 profissionais de instituições de assistência médica dos Estados Unidos e Reino Unido. O levantamento The AI effect: How artificial intelligence is making health care more human (O efeito IA: como a inteligência artificial está fazendo os cuidados com a saúde serem mais humanos, em livre tradução) aponta que a inteligência artificial está tornando os cuidados de saúde mais humanos à medida que os profissionais da área estão usando a tecnologia para melhorar processos, além de automatizar a análise de dados e o aprimoramento de diagnósticos e do fluxo hospitalar.
Entre os entrevistados, a maioria afirmou que, por ter um gerenciamento de cronograma otimizado por essa tecnologia, sobra mais tempo do dia para se tornar um profissional mais eficiente, as máquinas criam oportunidades para desenvolver um trabalho mais próximo do paciente.
Diante da pandemia do novo coronavírus, que atinge de maneira desigual e devastadora a população de menor renda, como a inteligência artificial pode ser um instrumento acessível de apoio ao combate à disseminação da doença? Uma das empresas que têm respondido ao desafio ao apoiar organizações com essa tecnologia é a Cloudia, que tem oferecido apoio gratuito a ONGs e entidades médicas filantrópicas.
Na prática, a healthtech desenvolveu uma assistente virtual inteligente — um chatbot — para consultórios, clínicas e hospitais. A ferramenta automatiza o atendimento a pacientes (para marcar consultas, tirar dúvidas e enviar lembretes). Em tempos de pandemia, o negócio disponibilizou um chat que esclarece dúvidas da população sobre o novo coronavírus, baseado nas informações oficiais fornecidas pela Organização Mundial da Saúde (OMS).
Um conteúdo adicional da Cloudia compartilha dicas sobre o que fazer na quarentena com materiais gratuitos sobre cursos, séries de exercícios físicos, receitas, brincadeiras para fazer com as crianças, meditação, orientações sobre onde buscar ajuda psicológica, entre outros. Liderado por Felipe Miranda Costa, a empresa é uma das parceiras das startups Colab e Epitrack na iniciativa Brasil sem Corona, movimento criado para diminuir a disseminação da covid-19 nas cidades, mapeando os casos e as regiões com maior risco de surtos.
Para finalizar, remonto, novamente, a Kai-Fu Lee: “Apesar de todo o poder do mercado privado e das boas intenções dos empreendedores sociais, muitas pessoas ainda vão cair pelas rachaduras. Não precisamos procurar além da enorme desigualdade e da pobreza indigentes em grande parte do mundo de hoje para reconhecer que os mercados e os imperativos morais não são suficientes”.
No momento em que vivemos, é preciso que os governos sejam ágeis e impulsionem inovações — como a telemedicina –, colocando as reais necessidades da sociedade em primeiro lugar.
Maure Pessanha é empreendedora e diretora-executiva da Artemisia. Texto publicado originalmente no Blog do Empreendedor — Estadão PME.
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