O negócio de impacto conta com 32 agentes; a maioria deles é formada por microempreendedoras individuais que atuam como nanofranquias em 50 comunidades fluminenses
No Brasil, o acesso a óculos na infância poderia aumentar em até R$ 296,5 mil os ganhos na vida adulta, de acordo com uma pesquisa conduzida pela Agência Internacional para a Prevenção da Cegueira (IAPB) e pela Fundação Seva. Os detalhes do mapeamento que investiga as perdas de aprendizagem associadas a problemas de visão estão nessa reportagem, de Beatriz Bulhões.
Os dados apontam que a diminuição do aprendizado não afeta apenas as famílias de maneira individual; antes, tem um enorme efeito cumulativo nas economias dos países — o que mostra a dimensão profunda do problema e sua estreita correlação com a perpetuação do ciclo da pobreza. Essa pesquisa foi o tema de uma conversa com Ana Santos, CEO e fundadora do negócio de impacto Visão do Bem, que em parceria com o Instituto Phi tem desenvolvido o projeto Foco no Futuro. A iniciativa surgiu, justamente, para democratizar o acesso à saúde ocular de crianças e adolescentes em idade escolar.
O objetivo, segundo Ana, é que a visão deficiente não seja um obstáculo para o aprendizado e desenvolvimento dos alunos e, por isso, o projeto se concentra em alunos de escolas públicas do Ensino Fundamental e Médio, especialmente em comunidades de baixa renda no Rio de Janeiro. Na prática, no âmbito do Foco no Futuro, o negócio conduz mutirões de exame de acuidade visual em escolas públicas e organizações não governamentais; atua na conscientização sobre a importância da saúde ocular; realiza exames oftalmológicos; e promove a doação de óculos com lentes corretivas para os que necessitam.
O Foco no Futuro já celebra resultados consistentes: parceria e atendimento em 10 organizações não governamentais e oito escolas da Região Metropolitana do Rio de Janeiro e da Baixada Fluminense; realização de 2,4 mil testes de acuidade visual; 600 exames de vista completos; 360 crianças receberam óculos gratuitamente; e 23 estudantes foram encaminhados para clínicas da família para consulta com oftalmologista; entre outros. Para além dos números imediatos, Ana destaca a melhora do desempenho escolar, o aumento da autoestima da criança, a prevenção de problemas oculares mais graves e um fundamental impacto positivo para a inclusão social.
Fundado em 2017, o Visão do Bem tem concretizado o propósito de democratizar o acesso à saúde ocular, principalmente para pessoas em situação de vulnerabilidade social. A sustentabilidade financeira do negócio está na venda de óculos no modelo de nanofranquias e via parcerias com instituições e empresas. A empresa realiza exames oftalmológicos, fornece óculos (doação ou vendas) e promove ações de conscientização sobre a importância do cuidado com a visão. A empreendedora conta que, desde a criação, já foram doados mais de mil óculos e atendidas mais de oito mil pessoas.
“A correção visual proporcionada pelos óculos impacta diretamente na qualidade de vida das pessoas, melhorando o desempenho escolar, profissional e social. Para concretizar o nosso propósito, contamos com 32 Agentes da Visão, que são mulheres responsáveis por fazer a venda de óculos nos seus territórios, ou seja, 50 comunidades nas regiões de Pavão, Pavãozinho e Cantagalo, Vidigal, Tabajara, Babilônia, Grande Tijuca, Complexo de São Gonçalo, Grande Méier, Nova Iguaçu, Complexo do Estácio, Complexo do Alemão, Duque de Caxias, Belford Roxo e Niterói”, detalha Ana.
Sobre os objetivos para 2025, Ana afirma que têm planos ambiciosos. “Queremos continuar transformando vidas e contribuindo para um futuro mais justo e equitativo. Para isso, estamos focados em continuar a democratizar o acesso à saúde ocular, aumentar o número de pessoas que têm acesso aos serviços da Visão do Bem, expandir a área de atuação para alcançar mais comunidades e criar mais oportunidades para a nanofranquia Agente da Visão. A ideia é intensificar a avaliação do impacto na qualidade de vida das pessoas atendidas, no desempenho escolar e na inclusão social, fortalecer as parcerias, criar novas redes de colaboração e inspirar pessoas e instituições sendo um exemplo na nossa missão”, finaliza.
Maure Pessanha é empreendedora e presidente do Conselho da Artemisia. Texto publicado originalmente no Blog do Empreendedor — Estadão PME.