A alimentação é um tema crítico para o desenvolvimento socioeconômico do Brasil. Os desafios são encontrados em diferentes pontos da cadeia: da produção, logística, processamento, oferta até o consumo. Nesse cenário, o pequeno agricultor familiar e o consumidor de menor renda são os elos mais vulneráveis.
No Brasil, apesar de o número de domicílios em situação de insegurança alimentar continuar caindo — de acordo com a FAO (Organização das Nações Unidas para Agricultura e Alimentação) –, ainda existem cerca de 5 milhões de brasileiros sem acesso diário à comida de qualidade e na quantidade satisfatória. Em contrapartida, 41 mil toneladas de alimentos são desperdiçadas no País por dia. Com a quantidade de alimentos desperdiçados hoje, seria possível alimentar 25 milhões de brasileiros diariamente, ou seja, 13% da população.
A problemática é ainda maior quando pensamos que fatores como a falta de alimentos saudáveis próximos e acessíveis — como frutas, verduras e legumes -combinada com o sedentarismo e os maus hábitos alimentares têm impacto direto na saúde populacional, resultando em doenças como diabetes, hipertensão, problemas cardiovasculares e obesidade.
É nesse panorama socioeconômico que surgem negócios de impacto social que têm respondido ao desafio de garantir o acesso à alimentação equilibrada a um preço justo para o consumidor e para o produtor. Com apoio da Fundação Cargill, a Artemisia desenvolveu a Tese de Impacto Social em Alimentação — estudo que reúne informações relevantes sobre os desafios enfrentados na temática pela população de baixa renda no Brasil e aponta quais são as oportunidades para o desenvolvimento de negócios de impacto social que possam contribuir de forma positiva à sociedade. Entre as oportunidades identificadas, destaco duas.
A primeira permite que as pessoas — que vivem em locais onde a venda de alguns alimentos é limitada — tenham meios para comprar frutas, verduras e legumes a um valor acessível, podendo incorporá-los à rotina alimentar. A oportunidade fala de pontos de venda mais próximos dos consumidores; assinatura de produtos saudáveis a baixo custo; e soluções que permitam otimizar as compras logisticamente, diversificando produtos ou possibilitando compras coletivas. Um case de comercialização de alimentos orgânicos por meio de um modelo de assinaturas oferecido por um canal de vendas diretas — similar ao modelo adotado por marcas de cosméticos como Natura — é a Nutriens.
A rede de empreendedores é ativada por embaixadores (ativistas comunitários) das comunidades de Parelheiros, Capão Redondo e Brasilândia. No modelo de negócio, o embaixador oferece a assinatura de cestas de produtos orgânicos — legumes e verduras — na comunidade na qual reside a um preço igual ao dos alimentos convencionais. Com as vendas, passa a ter renda e acesso a uma alimentação saudável, criando um círculo virtuoso de suporte financeiro e alimentação de qualidade. Para o produtor local, a vantagem reside na garantia da venda da produção total, sem percorrer grandes distâncias.
Um outro exemplo que ilustra bem essa oportunidade é a Enjoy. Trata-se de um delivery de alimentos orgânicos, previamente selecionados pelos consumidores. O negócio de impacto social comercializa a produção local e orgânica do bairro da zona sul de São Paulo, Parelheiros — que, antes, era destinada a bairros de elite de São Paulo. Atua para que a produção seja vendida no bairro e com trocas de mudas orgânicas, experiências gastronômicas, oficinas de compostagem e criação de hortas. A empresa amplia o alcance social da produção local e orgânica que antes abastecia somente as feiras especializadas de bairros nobres da cidade.
A segunda oportunidade que destaco é relacionada ao acesso a refeições saudáveis. Baseia-se em oferecer uma alternativa de refeição saudável para a população de menor renda — que seja acessível geográfica e financeiramente, evitando assim o consumo de substitutos. Entre os exemplos de soluções, assinaturas de refeições a preços acessíveis; restaurantes de baixo custo; e delivery de refeições rápidas e saudáveis a baixo custo. Esse é o caso da Eats For You — aplicativo de delivery que comercializa marmitas caseiras. A solução conecta pessoas que buscam uma renda extra ou principal por meio da culinária a pessoas que desejam ter acesso a refeições caseiras na hora do almoço.
Esses são apenas alguns dos negócios de impacto social que apoiamos recentemente em nosso programa; empresas que estão contribuindo para ampliar o acesso da população de menor renda à alimentação saudável e equilibrada. Para quem pensa em empreender com impacto no tema, vale conferir outras oportunidades e exemplos de negócios que as ilustram na Tese de Impacto Social em Alimentação. O download é gratuito e pode ser feito pelo site: artemisia.org.br/alimentacao.
Você pensa em empreender no setor de Alimentação para gerar impacto positivo em nossa sociedade? Conheça nossa Tese de Impacto Social em Alimentação — estudo que criamos em parceria com a Fundação Cargill que analisa os principais desafios enfrentados pela população de baixa renda e aponta as oportunidades para quem pensa em criar um negócio de impacto social no setor. Faça o download gratuito AQUI.
- Maure Pessanha, coempreendedora e diretora-executiva da Artemisia, organização pioneira no fomento e disseminação de negócios de impacto social no Brasil.
- Texto publicado originalmente no Blog do Empreendedor — Estadão PME.