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Com uma força que representa R$ 1,7 trilhão em consumo, segundo dados do Instituto Locomotiva, a população negra já compõe a maioria dos empreendedores no Brasil. Entretanto, o País não enxerga essa potência transformadora. É nítido que precisamos “mudar a chave” para estimular empreendedoras e empreendedores negros para que possam criar negócios de impacto social por oportunidade; não apenas por necessidade.
Essa é, aliás, uma das recomendações de Adriana Barbosa, fundadora da Preta Hub: uma aceleradora do empreendedorismo negro associado à criatividade, inventividade e tendências. Idealizadora do estudo Empreendedorismo Negro no Brasil — realizado em parceria com a Plano CDE (empresa de pesquisa e avaliação de impacto, especializada nas famílias das classes C, D e E) e pelo Banco JP Morgan — a empreendedora é uma profunda conhecedora do afroempreendedorismo brasileiro.
Como fundadora da Feira Preta, há 18 anos, já reuniu 120 mil pessoas, 600 artistas nacionais e internacionais, 700 expositores e movimentou mais de R$ 5 milhões com a venda de produtos e serviços.
Nesse cenário, mirando uma oportunidade de negócio e uma demanda por iniciativas que fortaleçam a cultura afro e atendam ao consumidor negro, destaco um negócio de moda. O Clube da Preta, fundado em 2017, é uma plataforma que conecta afroempreendedores a clientes por meio de um clube de assinaturas. Mensalmente, os consumidores recebem uma caixa com itens exclusivos do universo cultural afro (vestuário, artes e acessórios), totalmente customizados para o perfil do cliente.
O negócio de impacto social — empreendido por Bruno Brígida e Débora Luz — atua fortalecendo as duas pontas: gera visibilidade e renda para os empreendedores negros e fortalece a identidade dos consumidores. Os assinantes descrevem o perfil na plataforma e, a partir dessas informações, é feito um match com os fornecedores.
O negócio surgiu, segundo os empreendedores, do desejo de mudar o mundo contando histórias reais. Com a escassez do mercado de trabalho e o crescimento do empreendedorismo no Brasil, Bruno e Débora observaram o crescimento da oferta de produtos de moda e beleza alinhados à cultura afro-brasileira. Diante de movimento cultural — que anda lado a lado de iniciativas de impacto social e consumo consciente — tiveram a ideia de criar o Clube da Preta.
Hoje, são mais de 120 fornecedores na plataforma; mais de mil clientes atendidos desde o início da operação do Clube da Preta e 500 assinaturas mensais. Investindo nas mais diversas classificações de estilo de moda, os empreendedores conseguem enxergar a diversidade e o impacto que cada um dos fornecedores provoca. Ao longo da trajetória, o negócio já gerou mais de R$ 100 mil de renda para os afroempreendedores.
Entre os impactos citados por Bruno, destaque para o fato de o Clube da Preta gerar conexão entre clientes — dos mais diversos estilos — com pequenos empreendedores. O consumidor recebe produtos altamente criativos e que representam tendências, confeccionados por empreendedores que estão nas bordas das cidades. Um impacto cultural que aproxima os clientes das regiões centrais desses produtores locais.
No Brasil, temos 54% da população que se declara negra ou parda, de acordo com o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE). É um público que se interessa por produtos e serviços focados na temática do empoderamento racial. Logo, mais do que um negócio, acredito que o Clube da Preta se tornou um dos vetores da transformação social.
Maure Pessanha é empreendedora e diretora-executiva da Artemisia. Texto publicado originalmente no Blog do Empreendedor — Estadão PME.
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