[:pt]O desafio da empregabilidade no Brasil tem desviado a atenção para uma questão premente: como pensar a inserção de pessoas no mercado de trabalho, ultrapassando a lógica de oferecer emprego. O questionamento é sobre novas formas para transformar a contratação de profissionais em instrumento de inserção de brasileiros que constituem uma parcela considerável da sociedade e, ainda hoje, integram um contingente muitas vezes excluído: pessoas com deficiência, negros, LGBTs e mulheres.
É notório que a maioria dos cargos — sobretudo, os de alta direção — são ocupados por homens brancos, heterossexuais, de famílias estruturadas e com acesso a renda e educação de qualidade. Ou seja, profissionais que carregam uma série de privilégios. Como equilibrar, então, essa contratação para que seja instrumento de inserção social?
É nesse sentido que temos que ter uma conversa progressista para expandir o repertório das áreas de recursos humanos de empresas de diferentes portes e setores. Sabemos que os vieses inconscientes nos processos seletivos ditam uma contratação viciada e pouco inclusiva. Nesse contexto, a tecnologia pode auxiliar na construção de uma nova narrativa para o recrutamento de pessoas, focando na diversidade e em um processo isento.
Aliás, não há diversidade sem promover a inclusão. A boa notícia é que já existe, no País, empreendedores que estão endereçando a temática por meio de negócios. Um deles é a Egalitê, startup fundada em 2009 em Porto Alegre que atua com treinamento, consultoria, recrutamento e recolocação de pessoas com deficiência no mercado de trabalho.
“Vivemos em um país com 24% da população composta por pessoas com algum tipo de deficiência, e menos de 1% dessa população está empregada”
Criada pelo empreendedor Guilherme Braga, a empresa possui uma tecnologia própria, desenvolvida para o match entre vaga e perfil do candidato — uma forma de aumentar a assertividade da contratação e diminuir a rotatividade de funcionários — um ponto crítico nos atuais processos de contratação. O treinamento para a inclusão possibilita o aumento de empregos adequados a pessoas com deficiência e prepara a comunidade empresarial para recebê-los. Com a Lei 8213/91 — que prevê cotas de vagas para pessoas com deficiência em empresas com 100 ou mais funcionários — o discurso recorrente é que faltam profissionais qualificados para ocuparem essas vagas garantidas por lei.
Não me parece ser o caso, já que vivemos em um país com 24% da população composta por pessoas com algum tipo de deficiência, totalizando 45 milhões de pessoas, de acordo com o IBGE. E menos de 1% dessa população está empregada. Na prática, há um contingente expressivo de profissionais que demandam a inserção no mercado de trabalho; são milhões de pessoas que podem contribuir para romper com um ambiente corporativo que perpetua um processo seletivo pouco diverso.
Esse é o desafio abraçado pela Egalitê. Acelerada na Estação Hack, a empresa já incluiu no mercado de trabalho mais de 6 mil pessoas com deficiência, como Quesia e James. Com visão monocular, a profissional foi contratada como promotora de vendas em uma multinacional; após duas semanas na empresa, alcançou sua primeira promoção.
“Empresas com um quadro de funcionários pouco diverso são 29% menos propensas à rentabilidade do que as inclusivas”
James, por sua vez, reporta que durante todo o processo seletivo se sentiu apto a concorrer de igual para igual com os outros candidatos. No início do ano foi admitido como consultor de negócios em uma empresa de telecomunicação. As contratações intermediadas pelo negócio de impacto movimentam algo em torno de R$ 8 milhões anuais com salários. Hoje, a plataforma conta com 55 mil cadastrados de 15 Estados no banco de dados.
A inclusão nos ambientes corporativos está cada vez mais associada à necessidade de inovação e ao aumento da performance e da competitividade do que a de uma postura de responsabilidade social. O estudo Delivering Through Diversity, da consultoria McKinsey, aponta que as empresas com um quadro de funcionários pouco diverso são 29% menos propensas à rentabilidade do que as inclusivas. Ou seja, a inclusão resulta, também, em melhores resultados financeiros. Melhores empresas para uma sociedade melhor.
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* Maure Pessanha é coempreendedora e diretora-executiva da Artemisia, organização pioneira no fomento e na disseminação de negócios de impacto social no Brasil. (Artigo publicado originalmente no Blog do Empreendedor — Estadão PME)
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