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Diferentemente do capitalismo tradicional, com demanda unilateralmente centrada em retornos financeiros, a economia de impacto é conceituada pela McKinsey & Company — no relatório Catalyzing the growth of the Impact Economy — como um sistema no qual as instituições e os indivíduos dão a mesma prioridade para os impactos social, ambiental e financeiro ao tomar as decisões sobre como alocar os recursos.
Com essa perspectiva, que combina dimensões tidas com inconciliáveis, consumidores e acionistas desafiam, constantemente, os empreendedores e executivos a mostrar que os lucros têm sido gerados de maneira a contribuir com o bem público. Interessante notar que a abordagem que permeia esses negócios tem contaminado positivamente algumas organizações em vários níveis: nas escolhas estratégicas, no gerenciamento de cadeias de suprimento e na alocação de fundos para investimentos. E está presente também na conduta de algumas autoridades municipais.
Claro que, no Brasil, estamos no início de uma jornada. Ainda nos falta ver, por exemplo, mais investidores e indústrias abraçando, de forma abrangente e comprometida, dimensões mais complexas da economia de impacto, que passam pela implantação de investimentos, gerenciamento de ativos, entrega de soluções, medição de resultados e geração de relatórios sobre o impacto de toda a operação.
Quando analisamos uma economia de impacto madura, vemos que ela tem por característica uma ampla variedade de instrumentos de investimento que os gerentes de ativos oferecem aos clientes. E os que são de impacto são distribuídos de maneira mais uniforme entre os diferentes tipos de instrumentos de equity.
Em uma economia de impacto mais robusta há uma quantidade maior de soluções de compensação de mercado para os desafios sociais e ambientais, ou seja, as empresas surgem para enfrentar impasses socioambientais, baseadas em modelos com fins lucrativos. Nesse cenário, os negócios sociais não ficam sem financiamento.
O que quero dizer é que há abundância de recursos para investir em empreendedores e empreendedoras dispostos a combinar lucro e impacto positivo na sociedade. Esse ainda não é o caso do nosso País. Entretanto, vejo que há sinais de movimentação em direção a um questionamento amplo sobre as decisões empresariais.
Com otimismo tenho visto que os consumidores estão cada vez mais conscientes do impacto socioambiental das empresas; mais gente prefere pagar, inclusive, por bens e serviços pautados por um impacto positivo na sociedade. E é justamente por haver esse contingente maior de pessoas que o jogo está mudando; que mais gestores de marcas estão alinhando esforços para incorporar modelos mais justos e coerentes com essa demanda dos clientes.
Está muito claro para todos os abismos sociais que temos que vencer; entendemos o quão inadmissível é a pobreza. Então, diante dessa constatação eloquente, há empresas sociais que são amplamente reconhecidas pelo potencial de endereçar os desafios de combater a desigualdade de oportunidades.
No entanto, os negócios sociais, de acordo com o relatório da McKinsey, não são amplamente reconhecidos, no Brasil, como potenciais para licitações públicas ou para serem parceiros de grandes empresas. Os arranjos governamentais de remuneração por desempenho — contratos baseados em resultados como títulos de impacto social (social impact bonds) têm uma aceitação limitada.
Em uma economia de impacto madura, entretanto, essas mesmas empresas são vistas como produtoras confiáveis de bens sociais. E, como podemos acelerar o nosso processo de amadurecimento desse mercado? Esse será o tema de um novo artigo em breve.
Maure Pessanha é empreendedora e diretora-executiva da Artemisia. Texto publicado originalmente no Blog do Empreendedor — Estadão PME.
Você é empreendedor(a) de um negócio que gera impacto positivo?
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