Há um evidente crescimento do volume investido e das transações conduzidas em negócios de impacto no Brasil, segundo revela o relatório Investimentos de Impacto no Brasil 2020. Lançado no início de 2022 pela Aspen Network of Development Entrepreneurs (ANDE), o levantamento com produção e análise da Pipe.Labo aponta que, embora a notícia seja boa, há muito ainda por fazer. Por exemplo, é necessário que mais mulheres e pessoas negras ocupem cargos de lideranças nas empresas investidoras; o país necessita, também, que pessoas negras acessem mais capital e que a economia se torne efetivamente mais verde.
Considero a leitura desse relatório essencial para que empreendedores e empreendedoras possam entender os pormenores do investimento de impacto no país. No documento, o leitor vai acessar, por exemplo, o perfil dos investidores que atuam no Brasil — hoje, formado por uma maioria que enxerga o mercado de negócios de impacto como uma oportunidade de investimento em inovação e impacto com retorno financeiro. Há uma tendência clara, apontada por 82%, de pontuar os recursos investidos como algo diferente de filantropia. Ou seja, está clara a relação com retorno financeiro. Na pesquisa, 9 entre 10 investidores entrevistados e sediados aqui têm essa percepção; no exterior, essa percepção está entre 6 a cada 10.
Com a mesma visão, os investidores lançam mão de práticas do mercado tradicional de investimento. Na prática, os investidores prometem ao seus investidores finais (que financiam os fundos), retornos de mercado, a maioria trabalha com IPCA+ 6%. Os gestores, por sua vez, 57% deles, cobram taxas de performance para a totalidade ou parte dos investimentos feitos — os valores costumam ser de 20%, algo comum no mercado de fundos de investimento de varejo no Brasil.
Quando analisada a motivação dos investidores finais — que disponibilizam seus recursos para os fundos que farão os investimentos nos negócios de impacto –, há um equilíbrio entre um capital que busca retorno alinhado ao impacto e um desejo de experimentar inovação em conjunto com impacto socioambiental.
Esses são números similares aos do mercado convencional, mostrando que os investidores estão preocupados em apostar em negócios qualificados, que tragam retorno financeiro e que estejam dentro da lógica adotada por empresas e não pela filantropia. Essas características atraem os investidores de fundos que atuam com startups de impacto.
Esse é um ponto interessante: os gestores de fundos de impacto procuram oferecer retornos atrativos iguais aos de negócios convencionais. A ideia — segundo Mariana Fonseca, uma das coordenadoras do estudo — é provar a tese, para o investidor final, de que é possível fazer as duas coisas: gerar impacto e ter retorno financeiro. Uma forma de acessar os bolsos do mercado tradicional que começa a olhar mais para impacto.
O mapeamento é muito rico, e eu não conseguiria, no espaço desta coluna, pontuar todos os seus achados. Mas, por último, gostaria de destacar que o apetite por investir em negócios de impacto não está sendo totalmente satisfeito em alguns setores. Um desencontro relevante de demanda para o investimento versus realidade do portfólio são as soluções de saúde: 66% desejam investir no setor, mas somente 47% dos entrevistados têm alguma solução deste tipo nas suas carteiras.
A íntegra do estudo pode ser acessada pelo site.
Maure Pessanha é empreendedora e presidente do Conselho da Artemisia. Texto publicado originalmente no Blog do Empreendedor — Estadão PME.
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