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No final de 2021, o Centro de Empreendedorismo e Novos Negócios da Fundação Getulio Vargas (FGV) conduziu o estudo Perfil dos Empreendedores de Impacto no Brasil: o desafio das desigualdades territoriais, que evidenciou como o apoio ao ecossistema ainda é relevante para que empreendedores sociais possam ter um melhor equilíbrio financeiro e inovar mais e de forma sistêmica. Coordenada pelo professor Edgard Barki, a pesquisa mostra como a desigualdade social do País é refletida neste ecossistema de negócios.
Uma análise relevante trazida pelo estudo, entre tantas, foca nas diferenças entre os negócios de impacto dentro e fora das periferias — que começam já na concepção do empreendimento. Enquanto o acesso ao capital inicial é 37 vezes maior entre os empreendedores que não são da periferia, ocasionando receitas 21 vezes maiores e escala de atuação 15 vezes maior, os empreendedores periféricos lidam com a impossibilidade de errar, a dificuldade de acesso a crédito e o prejuízo constante.
Estamos falando de desigualdades gritantes entre esses empreendedores, a começar pelo próprio perfil — a maior parte das pessoas que empreendem nas periferias são mulheres negras e que têm um rendimento do negócio abaixo de dois salários mínimos. Fora das periferias, a maioria dos empreendedores sociais é formada por brancos, há equilíbrio de gênero e o rendimento líquido dos negócios supera os R$ 12.450 mensais. A pesquisa mostra que a percepção de que são inovadores tem maior grau entre os empreendedores fora das periferias, enquanto os negócios periféricos são mais avessos ao risco.
Apoiada pela Fundação Arymax, a pesquisa revela que os empreendedores sociais têm um perfil mais altruísta, com empreendedores mais preocupados com o bem-estar coletivo: 63% dos entrevistados disseram, inclusive, estar satisfeitos ou totalmente satisfeitos com o próprio trabalho; entre líderes de negócios da periferia, esse índice é de 44%.
Entre os principais desafios para crescer, apontados no levantamento, estão gerir o crescimento interno (56%) — que significa adaptar as estruturas de gestão e achar novos colaboradores –; garantir crescimento suficiente de capital/financiamento (42%); e determinar o modelo mais eficaz para aumentar o nosso impacto social (36%).
O diagnóstico trazido pela pesquisa é muito valioso e revela a urgência, na minha opinião, de combatermos as desigualdades de oportunidades dentro do ecossistema de negócios de impacto. Entre as conclusões, destaco:
1. Os negócios de impacto no Brasil têm uma escala de impacto relevante na sociedade e atuam fortemente, beneficiando grupos de desfavorecidos — em especial, famílias em situação de vulnerabilidade social e econômica, mulheres, jovens, crianças e minorias étnicas.
2. Há um bom nível de satisfação com o próprio trabalho, mas isso não é realidade entre os empreendedores e empreendedoras negras e das periferias.
3. Os empreendedores sociais — em especial, os das periferias — ressentem-se da pouca ajuda do Estado, das empresas e do terceiro setor. Ainda assim, as parcerias com os dois últimos são muito relevantes, sobretudo, para o acesso a recursos.
4. Os resultados da pesquisa evidenciam que o apoio a esse ecossistema é ainda relevante para que os empreendedores sociais possam ter um melhor equilíbrio financeiro e inovarem de forma sistêmica.
Para saber mais sobre o estudo, recomendo a leitura na íntegra.
Maure Pessanha é empreendedora e presidente do Conselho da Artemisia. Texto publicado originalmente no Blog do Empreendedor — Estadão PME.
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Pensando nos desafios que os(as) empreendedores(as) enfrentam para mensurar o impacto de suas soluções, nós da Artemisia nos juntamos à Agenda Brasil do Futuro e à Move Social para lançar o Guia Prático de Avaliação para Negócios de Impacto Social, disponível para download gratuito AQUI.
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