(Crédito: José Roberto Couto)
Imagine um barco cheio de soluções inovadoras flutuando sobre as águas do Rio Amazonas. Foi exatamente isso que aconteceu durante o Coca-Cola Open Up – The Boat Challenge, programa criado para auxiliar startups que buscam impulsionar o desenvolvimento socioambiental da Amazônia. Durante três dias, os convidados não apenas flutuaram, mas tiveram a oportunidade de se aprofundar em seus modelos de negócio e na percepção do impacto que podem causar na região e em seus habitantes.
O barco navegou de Parintins a Manaus, de 26 a 28 de junho, com discussões a bordo sobre desafios nos setores de água, agricultura sustentável, sociobiodiversidade, saúde, bem-estar, entre outros. A viagem foi o momento de encontro entre empreendedores, mentores e convidados, que trabalharam juntos para entender melhor os principais pontos que podem ser aprimorados em cada negócio e quais os próximos passos para garantir um impacto local mais efetivo. O processo teve como facilitadora a Artemisia, organização sem fins lucrativos pioneira no fomento dos negócios de impacto social no Brasil, assim como a criação de toda a metodologia.
Mailson Gondim e Vagner de Menezes, que moram na comunidade Bauana, próxima ao município de Carauari (AM), de 25 mil habitantes, participaram da viagem. A cidade deles fica a 780 quilômetros de Manaus em linha reta, ou a 1.676 quilômetros por via fluvial. A única maneira de chegar à região é de barco ou avião. Mesmo distantes de tudo, os dois empreendedores criaram uma startup, a Unidade de Beneficiamento de Produtos Florestais (UBPF), que busca agregar valor aos produtos e ativos da Amazônia, como a andiroba e o açaí.
A UBPF contribui para o aumento de renda de pequenos produtores, uma vez que recebe pedidos de grandes empresas e faz o repasse a diferentes grupos, oferecendo mais oportunidades de trabalho. Seu trabalho é conectar pequenos produtores e grandes compradores, desenvolvendo ainda todo o processo necessário, desde a coleta das sementes e secagem até a entrega do produto final. Ou seja: parte da matéria-prima bruta vinda do extrativista e vende o produto processado para empresas.
O negócio de Gondim e Menezes foi um dos três selecionados pelos próprios participantes como os de maior destaque, levando-se em consideração o potencial de impacto e modelo de negócio. Assim como as empresas Minitrat e 100% Amazônia, receberá mentorias pontuais para dar continuidade ao processo de desenvolvimento do negócio, oferecidas pela Artemisia.
Durante o período de aprendizado, as três iniciativas também terão oportunidades de desenvolver uma rede de contatos. “Com esse evento, ganhamos muita experiência na área de gestão e busca de clientes, e a troca de experiências com outros empreendedores é de grande importância para qualquer negócio. Estou levando para minha região muitos aprendizados que recebemos de todos os mentores”, contou Gondim.
Produto simples e acessível, a Minitrat é uma estação residencial de tratamento de esgoto para reuso da água. O aparelho, que substitui a fossa séptica com mais eficiência e segurança, foi criado por Flávio Sisti e Ricardo Azevedo. “Espero que a gente consiga retribuir para a sociedade, principalmente para a região Amazônica, um pouco do que a gente está levando na mente e no coração desse evento surpreendente. Além de ter sido nesse lugar incrível, o programa promoveu uma interação que trouxe crescimento e progresso para nossos projetos. Estamos preparados para esse desafio”, afirmou Azevedo
Já a 100% Amazônia é especialista em produtos de base florestal não renovável não-madeireira, provenientes da biodiversidade da Amazônia. O negócio promove a coleta da matéria-prima, principalmente o açaí, por meio de cooperativas locais, e ajuda a transformá-la em ingrediente para as indústrias internacionais de suplementos alimentares, bebidas e cosméticos. A empreendedora Joziane Alves viu o The Boat Challenge como um momento de grande troca de conhecimento e experiência. “Hoje a gente vive uma transição. Não existe mais o ‘eu’ isolado, mas sim uma interdependência dos sistemas, exatamente o que a gente fez no evento. Se você não compartilhar, não está mais nesse momento. O que funcionava antes faz parte do passado. Agora estamos em uma nova era, e não temos outra escolha que não seja a união para fazermos um mundo melhor”, resumiu.
Foram selecionadas apenas startups em estágio mínimo de protótipo, ou seja, que já tenham um produto ou serviço desenvolvido e em fase de testes. As 15 participantes foram desafiadas durante os três dias a repensar os próprios negócios para avançar em suas atividades.
“Está surgindo uma nova matriz econômica na região com várias iniciativas sustentáveis para manter a floresta em pé. Estamos há mais de 25 anos no Amazonas, com a nossa fábrica de concentrados em Manaus, e, por isso, temos um compromisso de colocar ações da Coca-Cola Brasil a serviço do desenvolvimento do estado”, disse Pedro Massa, diretor de Valor Compartilhado da Coca-Cola Brasil, área responsável pela organização da viagem.
Diretora-executiva da Artemisia, Maure Pessanha diz que, desde 2004. a organização apoia negócios com real potencial de causar impacto na vida de milhares de pessoas de baixa renda. “Há mais de uma década, a Artemisia apoia a geração de negócios de impacto social no Brasil. Identificamos no nosso trabalho de busca e seleção alguns temas críticos para o país e com número muito incipiente de negócios. Por isso, fomentamos soluções que atendam aos desafios em temas específicos como, por exemplo, os da região Amazônica.
A executiva acrescenta que o objetivo do programa foi unir forças das duas organizações — Artemisia e Coca-Cola Brasil — de forma a contribuir para a criação de bases para um ecossistema de negócios de impacto social na região.
Os mentores, que compartilharam experiências e opiniões com os empreendedores novatos, também saíram impactados. Renata Puchala, gerente do Programa Amazônia da Natura, se surpreendeu com a qualidade dos negócios apresentados. Ela pontuou que essa foi uma rara oportunidade para reunir olhares diferentes em nome de um mesmo objetivo: abraçar uma região que carece de projetos de impacto social. “Sabemos que ainda temos um longo caminho para alcançar o mundo ideal, mas vemos que temos alternativas. Saio do Boat muito otimista por ver pessoas capazes de criar negócios que contribuirão para uma Amazônia e um mundo melhor”, observou.
Para Vanderleia Radaelli, especialista sênior em Ciência, Tecnologia e Inovação do Banco Interamericano de Desenvolvimento (BID), que é apoiador da ação, o The Boat Challenge veio em uma hora essencial para o desenvolvimento desse tipo de negócio. “Fico muito feliz ao ver uma grande instituição como a Coca-Cola Brasil tocada por essa causa. Há o surgimento de novos modelos de negócio e que também precisam ser incorporados como políticas públicas”, afirmou Vanderleia. A missão do BID, conta Vanderleia, é melhorar a vida das pessoas assim como todos os negócios apresentados que tenham impacto direto na população. “Tive a oportunidade de conhecer trabalhos de forte impacto social sendo desenvolvidos de maneira adequada e inclusiva”, completou.