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O Fórum Econômico Mundial tem sido incisivo em uma reflexão muito pertinente para o nosso tempo: a urgência em capacitar as empreendedoras sociais e a estreita relação deste suporte qualificado para a recuperação econômica pós-pandemia.
Está claro que são elas que podem contribuir substancialmente para o crescimento econômico e para a redução da pobreza em seus territórios, porque se dispõem a trabalhar efetivamente para interromper padrões de desigualdade.
Na prática, a recuperação sustentável e inclusiva das nações depende da força do empreendedorismo feminino socioambiental.
Na análise do Fórum, as empreendedoras sociais têm conquistado resultados positivos no que classificam de “escala profunda”, ou seja, ao revisar os sistemas injustos, elas provocam o surgimento de movimentos colaborativos, que são responsáveis por reformular expectativas, normas e estigmas femininos.
Entretanto, as barreiras são muitas e estão atreladas a um ambiente dominado por homens que julgam as mulheres constantemente.
Um ponto muito relevante trazido pela análise é que o ecossistema — dominado e gerido por homens — mede o impacto dos negócios com métricas associadas ao número de pessoas “beneficiadas” e à quantidade de riqueza acumulada.
Eles ignoram o olhar feminino para como as iniciativas empreendedoras influenciam novas formas de pensar, como endereçam soluções inovadoras e fomentam questionamentos sobre formas de romper o ciclo da desigualdade.
Ainda sobre os desafios, a edição 2021 da pesquisa conduzida pelo Instituto Rede Mulher Empreendedora — organização da sociedade civil referência no apoio ao empreendedorismo feminino — apontou que entre as principais dificuldades citadas pelas empreendedoras estão a venda dos produtos e serviços e o acesso a recursos financeiros e crédito.
Entre as entrevistadas que solicitaram crédito, 42% tiveram os seus pedidos solenemente negados. Esse cenário não é muito distante do encontrado no ecossistema de negócios de impacto socioambiental, no qual registramos desafios como a falta de acesso a investimentos, escassez de incentivos, impacto negativo da jornada dupla na dedicação ao negócio, confiança minada ao lidar com o machismo estrutural, falta de capital social e de apoio no processo de letramento digital.
É importante ressaltar que a maioria dos negócios de impacto social tem as mulheres como as principais clientes ou beneficiárias.
Desenvolver produtos e serviços que, além de levar educação, saúde, moradia, possam considerar as especificidades de gênero e o contexto dentro dessas verticais é ainda um espaço de reflexão e uma oportunidade de negócio.
Diante desse cenário, temos que enxergar que viabilizar um ecossistema mais equilibrado em termos de gênero dos empreendedores — e lançar, também, um olhar de gênero para pensar nas clientes — resultará não apenas em um ambiente mais justo, mas em melhores condições de amplificar o impacto social positivo. Os problemas sociais sistêmicos demandam formas colaborativas para combatê-los.
Acredito ser importante ressaltar que, ao avançar na jornada empreendedora — e obter sucesso, sobretudo, financeiro –, as mulheres transformam a vida da família e do seu entorno.
Elas investem mais na educação dos filhos, ou seja, preparam melhor a próxima geração; apoiam a comunidade e os seus familiares; e dão suporte a outras mulheres na dura batalha de empreender. Ao empreender, elas impactam a sociedade de uma maneira bastante singular, porque geram ciclos de abundância social, emocional e econômica por enxergarem a potência de outras mulheres.
Esse poder de transformar o sucesso pessoal em impacto social não deve ser menosprezado. Ao contrário, o suporte ao empreendedorismo feminino não pode ser uma bandeira apenas das mulheres ou de algumas organizações; a sociedade e o ecossistema de impacto social têm que abraçar essa causa e criar mecanismos de apoio.
O crescimento e a realização profissional de uma mulher são vitórias a serem celebradas por toda a sociedade.
Maure Pessanha é empreendedora e presidente do Conselho da Artemisia. Texto publicado originalmente na Folha Empreendedor Social.
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