Erê Lab cria mobiliários lúdicos em espaços urbanos para estimular a interação entre pais, filhos e a cidade
Sabe-se que uma criança na primeira infância possui uma enorme plasticidade cerebral, ou seja, o cérebro conta com uma elevada capacidade de transformação devido aos estímulos e às experiências vividas. De acordo com a Neurociência, entre a gestação e os três primeiros anos de idade — período classificado como primeiríssima infância –, a estimulação adequada do bebê com atividades de interação e comunicação permanentes na prática do brincar pode contribuir para seu desenvolvimento.
E o que isso tem a ver com negócios de impacto social? Tudo! Sobretudo, com a disseminação de espaços do brincar criados pelo Erê Lab. Fundado em 2014 por Roni Hirsch, artista e cenógrafo, e Helo Paoli, formada em Artes Plásticas e com experiência em produção executiva ligada à arte e cultura, o Erê Lab é um negócio de impacto social que desenvolve mobiliários urbanos lúdicos voltados a promover o desenvolvimento cognitivo e psicomotor de crianças na primeira infância.
A empresa cria, produz e instala objetos de pequeno, médio e grande portes para serem montados em praças, parques e espaços ociosos das cidades. A iniciativa fortalece o senso de cidadania, o respeito ao espaço público e estimula as interações entre pais e filhos nesses ambientes.
A atuação dos empreendedores dialoga, diretamente, com a importância de termos projetos de longo prazo de acolhimento das nossas crianças, incluindo o poder público. Quando temos espaços de brincar saudáveis, de boa qualidade, permanentes e inclusivos estamos fomentando a relação de longo prazo da criança com a cidade, além de fortalecer o desenvolvimento cognitivo infantil e todas as relações de afeto e fortalecimento da cidadania, fazendo com que, no futuro, tenhamos cidadãos melhores e políticos mais conectados com as causas transformadoras.
Nos últimos oito anos, a empresa tem expandido o impacto no país. Com o objetivo de oferecer o brincar de qualidade em mais espaços das cidades brasileiras, o Erê Lab tem atuado para implementar em mais localidades a metodologia do Coop-erê — baseada na articulação de parcerias com associações ou grupos de moradores, além do poder público, que apresentam uma praça que possa receber um novo local de brincar colaborativamente. Um ponto importante é que se comprometem em serem os futuros guardiões do espaço. O projeto une, na prática, a iniciativa privada, os órgãos públicos e as comunidades em uma trilha na qual cada parte assume a sua responsabilidade.
Com a metodologia Coop-erê, os empreendedores se associam a financiadores interessados em apoiar a infância no Brasil, criando possibilidade de juntar comunidades e colocar em prática a criação de novos espaços de brincar, tornando o acesso democrático a mais crianças. Em 2021, o negócio entregou um belo espaço na Ilha de Deus, no Recife. Neste ano, mais três espaços estão sendo entregues, sendo um em Porto Alegre e dois em São Paulo: nas comunidades de Pirituba e Guaianazes. O Coop-erê está em sua décima praça entregue e já impactou, ao todo, mais de 560 mil pessoas.
O Erê Lab tem avançado, também, em outras parcerias com prefeituras. Em São Paulo, a aliança com a Secretaria de Cultura permitiu ao negócio estar presente em seis casas de cultura na cidade; com o SESC, construíram espaços de brincar em unidades. Em média, 60 novos projetos anuais são conduzidos.
Ainda em São Paulo, Helo e Roni renovaram a parceria para o cuidado do Parque Buenos Aires. Hoje, a empresa contabiliza mais de 200 projetos entregues, mais de 13 mil metros quadrados de espaços de brincar construídos (públicos e privados), mais de 50 mil crianças impactadas e 11 instituições parceiras.
Conversando com Roni Hirsch (que no momento está na Irlanda, dividindo a experiência do Erê Lab em uma conferência promovida pela Child in the City Foundation), ele me conta que desenhar cidades, pensando nas crianças pequenas — especialmente em espaços externos que encorajem a mobilidade segura e a interação social –, é uma preocupação crescente no nível global. Em 2050, cerca de 70% da população será urbana; hoje, mais de um bilhão de crianças vivem em cidades. Portanto, o tema é de suma importância e está conectado com os futuros que queremos construir para as novas gerações.
As crianças que brincam em um espaço público de boa qualidade terão uma memória afetiva consistente desse território; carregarão consigo as boas memórias do que é um brincar livre; vão estabelecer relações sólidas com o bairro, com os comércios e com a vida urbana, onde os diferentes se encontram. E, como diz Roni: “não podemos desperdiçar as chances de transformação”!
- Maure Pessanha é empreendedora e presidente do Conselho da Artemisia, organização pioneira no apoio a negócios de impacto no Brasil. Texto publicado originalmente no Blog do Empreendedor — Estadão PME.
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