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Negócio de impacto cria purificador de água usado em zonas de conflito e sob efeito de emergências

[Os empreendedores Fernando Silva e Maria Helena Cursino desenvolveram um purificador de água portátil, usado em mais de 20 países para crises humanitárias. Foto: Ariel da Mata]

A tecnologia, desenvolvida para ser uma estação de tratamento portátil, está sendo usada na Ucrânia, Faixa de Gaza, Síria, Etiópia, no Haiti, Paquistão e Rio Grande do Sul

A falta de água potável impacta quase 32 milhões de pessoas no Brasil, de acordo com o Instituto Trata Brasil. O Ranking do Saneamento 2024 aponta, ainda, que cerca de 90 milhões de brasileiros não possuem acesso à coleta de esgoto — problema que tem um sério impacto negativo na saúde. Frequentemente, a população em situação de vulnerabilidade social e econômica é hospitalizada com doenças de veiculação hídrica, ou seja, as enfermidades causadas pela presença de micro-organismos patogênicos na água de diferentes usos: bactérias (salmonella), vírus (rotavírus) e parasitas (giardia lamblia) para citar alguns exemplos.

O propósito de levar água potável a lugares de difícil acesso está no cerne da criação, em 2019, da PWTech. Para viabilizar esse objetivo, os empreendedores Fernando Silva e Maria Helena Cursino desenvolveram um purificador de água portátil, de baixo custo e com fácil instalação e manutenção. Passados cinco anos, a solução está em mais de 20 países, em projetos e ações da Organização das Nações Unidas (ONU) para crises humanitárias. A tecnologia propiciou o acesso à água potável em regiões de conflito e sob o efeito de emergências climáticas, tais como Rio Grande do Sul, Ucrânia, Faixa de Gaza, Síria, Haiti, Paquistão e Etiópia.

Batizado de PW5660, o purificador consiste em uma caixa com menos de um metro de largura e 43 cm de altura, e aproximadamente 18 quilos. A tecnologia desenvolvida para ser uma estação de tratamento portátil contempla um processo bastante simples: se inicia com uma cloração, passa por dois níveis de filtro particulado e acaba em uma membrana de ultrafiltração — um filtro usado em máquinas de diálise. O equipamento, que funciona em diferentes fontes de energia, é capaz de purificar de 5.600 litros a 10.000 litros de água por dia, reduzindo em até 99,5% a presença de partículas e eliminando 100% os vírus e as bactérias.

No Brasil, o negócio de impacto é classificado como “Empresa Estratégica de Defesa” e os purificadores, por sua vez, como “Produto Estratégico de Defesa”. Hoje, são destinados a áreas remotas e sem infraestrutura de saneamento básico, como a Ilha do Bororé (São Paulo) e as comunidades indígenas Yanomami (Amazonas). A solução se destina, ainda, a programas na área de saúde e educação, disponibilizando água limpa para Unidades Básicas de Saúde (UBS) e escolas.

Sobre a visão de futuro para o negócio, os empreendedores salientam que esperam levar adiante o propósito da empresa; pretendem fazê-la crescer em outras áreas e outros segmentos que não contam com o abastecimento de água potável no país, como as escolas. Para endereçar esse objetivo, criaram o programa “Água Boa nas Escolas”, que chegou, em maio de 2024, a seis instituições de ensino do Vale do Jequitinhonha (Minas Gerais). Em breve, será implementado, também, em Macaé (Rio de Janeiro).

Diante da tragédia que abate o Rio Grande do Sul, o purificador tem sido usado para endereçar solução de emergência para a falta de água apropriada ao consumo da população. Por meio de uma mobilização, que arrecadou fundos na internet, foram enviados ao Estado 220 purificadores que estão ajudando no fornecimento de água potável aos atingidos pelas enchentes. A carga — que inclui kits de manutenção e filtros de linha destinados a garantir maior durabilidade dos aparelhos — tem capacidade de fornecer até dois milhões de litros de água filtrada por dia, o suficiente para atender um milhão de pessoas, considerando o consumo diário de dois litros por pessoa em situações de emergência, segundo a Organização Mundial de Saúde. Além da disponibilização de 100% do seu estoque, a PWTech doou 16 purificadores e R$ 33 mil para o Estado em ação coordenada pela ONG Movimento União BR.

Maure Pessanha é empreendedora e presidente do Conselho da Artemisia. Texto publicado originalmente no Blog do Empreendedor — Estadão PME.

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