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Para evitar desperdício de alimentos em restaurantes, padarias, cafeterias e hortifrútis, a empresa Food To Save comercializa produtos com até 70% de desconto.
O Objetivo de Desenvolvimento Sustentável #12 é audacioso e sugere que, até 2030, devemos alcançar a gestão sustentável e o uso eficiente dos recursos naturais — o que inclui reduzir pela metade o desperdício de alimentos per capita mundial, nos níveis de varejo e do consumidor.
Além disso, o ODS tem por meta reduzir as perdas de alimentos ao longo das cadeias de produção e de abastecimento, inclusive, diminuindo as perdas pós-colheitas.
Como síntese, a Agenda 2030 da Organização das Nações Unidas (ONU) fala sobre “o consumo e a produção responsáveis, nos quais se garante padrões sustentáveis”. Um negócio de impacto brasileiro — Food To Save — tem atuado nessa direção.
Fundado por Lucas Costa Infante, o Food To Save desenvolveu um aplicativo que conecta os estabelecimentos do ramo alimentício — que possuem excedentes de produção (produtos próximos da data de validade que não foram consumidos ao longo do dia ou com pequenas imperfeições) — a usuários por meio de uma “sacola surpresa”.
Na prática, o consumidor acessa o aplicativo, escolhe o estabelecimento dentro de um raio de distância e o tipo de itens da sacola (doces, salgados ou ambos) e fica sabendo o que comprou somente quando a recebe em casa.
Com o propósito de “salvar os alimentos” de restaurantes, padarias, cafeterias e hortifrútis de um descarte, a empresa comercializa os produtos aptos para o consumo com até 70% de desconto. Concomitantemente, a startup também olha para a falta de acesso a bons alimentos por pessoas em situação de vulnerabilidade social.
O aplicativo que combate o desperdício de alimentos atua, diretamente, na construção de consciência de que o consumidor pode — e deve — se engajar nessa luta. Em conversa com o empreendedor, ele conta que, desde a fundação, em 2021, o negócio evitou que mais de 1.400 toneladas de comida fossem descartadas.
“O modelo de negócio da foodtech é baseado no conceito de triple-win, ou seja, todos ganham: estabelecimento, consumidor e meio ambiente. Para o comércio, o ganho está em um novo fluxo de clientes e monetização via produtos que seriam descartados; para o consumidor, o ganho está no acesso a uma variedade de alimentos com descontos atrativos; para o planeta, menos descarte incorreto de alimentos”, conta Lucas.
O empreendedor social diz que a proposta central é provocar uma reflexão na sociedade para um tema extremamente relevante. “Nós, como sociedade, precisamos de uma reeducação para enxergar as oportunidades de transformar o próprio consumo em uma atividade mais consciente e pautada pelo aproveitamento de alimentos.
Mudar a mentalidade do consumidor para que ele possa entender que um produto excedente é diferente de restos e sobras é um dos nossos desafios cotidianos”, salienta.
A intersecção com o meio ambiente pode ser explicada via levantamento da Organização das Nações Unidas (ONU) de 2022 que mostra que o Brasil desperdiça por ano cerca de 27 milhões de toneladas de alimentos; a estimativa é que 80% desse desperdício ocorram no manuseio, transporte e nas centrais de abastecimento.
Somado ao problema do desperdício, segundo o Painel Intergovernamental sobre Mudanças Climáticas (IPCC), a decomposição do resíduo orgânico no meio ambiente gera gás metano, com potencial de aquecimento global 25 vezes maior quando comparado ao dióxido de carbono. Minimizar o desperdício de alimentos é parte da estratégia para a redução da emissão de gases de efeito estufa.
*Maure Pessanha é empreendedora e presidente do Conselho da Artemisia. Texto publicado originalmente no Blog do Empreendedor — Estadão PME.
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