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Negócio de impacto usa inteligência artificial para analisar cobranças indevidas a consumidores de empresas de telecom, luz, água e e-commerce
Pesquisa Nacional da Defensoria Pública, conduzida em 2022, aponta que quase 25% da população brasileira está impedida de reivindicar os seus direitos, ou seja, está potencialmente à margem do sistema de justiça. Na prática, são quase 53 milhões de cidadãos e cidadãs sem acesso à assistência jurídica gratuita; desse contingente, há mais de 48 milhões de pessoas em situação de vulnerabilidade social e econômica, com renda familiar de até três salários mínimos.
Esse panorama atinge uma população que lida com uma série de desafios para endereçar demandas referentes a problemas com fornecedores, públicos e privados, de produtos e serviços. Um negócio de impacto social criada no Rio de Janeiro tem usado a tecnologia para auxiliar os consumidores de todo o Brasil a transformar os problemas em dinheiro.
Fundado em 2020 por Gilmar Bueno e Sara Raimundo (in memoriam), a inspiração para a criação do negócio surgiu dois anos antes, a partir de um trabalho acadêmico para a disciplina de Empreendedorismo da graduação da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ). Bueno, cursando Engenharia de Produção, enxergou a oportunidade de endereçar uma solução para um desafio vivido pela própria família: como resolver um problema com uma empresa telefônica de maneira rápida e sem prejuízo financeiro.
“Minha mãe não estava conseguindo sanar uma questão com a companhia e tive que me envolver. A experiência foi bastante desafiadora e me inspirou a elaborar uma alternativa para ajudar, especialmente, as pessoas mais vulneráveis. Com esse objetivo em mente, convidei Sara — que cursava Direito na mesma universidade — para integrar o grupo. Esse foi o início da Unicainstancia, cujo nome parte da proposta de solucionar problemas em uma única instância”, conta o empreendedor.
Na prática, a Unicainstancia é um negócio de impacto com base tecnológica que usa a inteligência artificial para analisar, gratuitamente, eventuais cobranças indevidas a consumidores de empresas de telecom, luz, água e e-commerce. Após a checagem da reclamação, a startup adquire os direitos em processos judiciais mediante compensação financeira para o cliente; o valor pago é, em média, de R$ 600,00. A atuação está amparada por leis como o Código Civil Brasileiro, Código de Processo Civil, Lei de Liberdade Econômica, Marco Legal das Startups e Marco Civil da Internet.
Com o slogan “tecnologia que transforma os seus problemas em dinheiro”, o negócio de impacto social trabalha com intermediação do conflito, ou seja, a partir da autorização do consumidor — para negociar com a empresa que prestou um serviço –, e a aquisição do problema, a startup leva adiante a negociação. Se perder a causa, o negócio assume o prejuízo e o consumidor não arca com nenhum custo. Caso a Unicainstancia ganhe a negociação, o valor ficará com a empresa.
O passo a passo do atendimento, totalmente gratuito, é conduzido na plataforma: o consumidor descreve o problema e insere com as evidências (contas, documentos etc.); na sequência, a inteligência artificial da empresa confere os dados e responde, em até 48 horas, se há interesse em comprar a possível causa. O pagamento é feito para a pessoa que procurou o negócio de impacto, sem burocracias e sem sair de casa. A startup possui casos de clientes que receberam no mesmo dia em que reportaram o problema: uma solução que veio em oito horas.
Segundo Gilmar Bueno, para a maioria da população brasileira, cada real faz a diferença no fim do mês para fechar as contas. “Quem recebe uma cobrança indevida na fatura de telefone, internet ou energia, por exemplo, muitas vezes não consegue lidar com as burocracias para resolver o problema. Há, inclusive, muitos brasileiros com CPFs negativados por conta de cobranças indevidas: uma situação que compromete o futuro de famílias mais vulneráveis. É nesse contexto que atuamos, tendo por meta ajudar os consumidores, que se consideram lesados, a serem indenizados e garantir que não fiquem financeiramente desamparados. Nós compramos, literalmente, o problema do consumidor”, pontua, acrescentando que a Unicainstancia já atendeu a mais de cinco mil pessoas de todos os Estados do Brasil.
Um dos negócios que receberam investimento de impacto mediado pela Articuladora de Negócios de Impacto da Periferia (ANIP) — coalisão formada por Artemisia, FGVcenn e A Banca — a Unicainstancia evita o desgaste do consumidor com a demora dos processos e com a linguagem jurídica ao antecipar uma indenização que, em média, demora mais de dois anos; além disso, a atuação da empresa contribui para a redução da quantidade de processos, dessa natureza, em andamento na justiça. “A ANIP tem papel fundamental no apoio à fintech ao nos ajudar não apenas com crédito saudável, mas ao possibilitar que antecipemos a indenização para os clientes”, afirma Gilmar.
O trabalho desenvolvido pelo negócio de impacto está alinhado aos Objetivos de Desenvolvimento Sustentável #10 (Redução das Desigualdades) e #16 (Paz, Justiça e Instituições Fortes).
“Entendemos que a empresa contribui para apoiar a população vulnerável no acesso a uma solução que impacta positivamente a renda familiar e, ao mesmo tempo, oferece suporte para que esse cidadão tenha confiança nas organizações, ou seja, a certeza de que os seus direitos serão respeitados. Com isso, combatemos as desigualdades e fortalecemos a confiança nas instituições”, afirma Gilmar Bueno, que, após o falecimento precoce de Sara Raimundo, leva adiante o legado dessa incrível empreendedora social.
*Maure Pessanha é empreendedora e presidente do Conselho da Artemisia. Texto publicado originalmente no Blog do Empreendedor — Estadão PME.
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