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‘Empreendedorismo forçado’ e os desafios da inclusão produtiva no Brasil

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O Mapa de Empresas, estudo divulgado pelo Ministério da Economia, revela que o Brasil registrou um recorde no número de novas empresas abertas em 2020, ou seja, foram 3,36 milhões de empreendimentos criados por microempreendedores individuais (MEIs). Esse é o maior volume registrado desde 2010.

Em janeiro deste ano, o País atingiu a marca de 20 milhões de negócios oficialmente em atividade. Especialistas no tema apontam a pandemia como uma das responsáveis por esse resultado — que seria, ainda, uma evidência de que passamos por uma crise na qual os desempregados são empurrados para um “empreendedorismo forçado”.

Esse contexto nos remete à importância e aos desafios de falar sobre a inclusão produtiva. Esse conceito se refere à inclusão de pessoas em situação de vulnerabilidade econômica no mundo do trabalho, ou seja, iniciativas e políticas públicas voltadas à diminuição da exclusão social e ao aumento da produtividade do País.

Presente no âmbito internacional e nas ações governamentais e de fundações filantrópicas, essa reflexão emergiu da compreensão do quanto o aumento do nível de renda é fundamental para a redução da pobreza e para a inclusão social. No Brasil, uma das pioneiras na produção de conteúdo qualificado sobre a temática é a Fundação Arymax.

Em 2020, a organização coordenou — em parceria com a B3 Social e organizado pelo Instituto Veredas — um estudo potente sobre esse tema tão estruturante. O Futuro da Inclusão Produtiva no Brasil: da emergência social aos caminhos pós-pandemia revela que a crise gerada pelo novo coronavírus agrega uma camada de complexidade aos desafios que o Brasil já vinha enfrentando para promover a inclusão de brasileiros no mundo laboral.

Desde 2014, o País vivencia a deterioração da economia — e das condições no mercado de trabalho — com consequências especialmente severas para a população mais vulnerável. Com a covid-19, políticas de isolamento social nos levaram a mudanças nos arranjos de trabalho e nas formas de as empresas operarem. Na prática, gerando impactos na remuneração de trabalhadores formais e informais, culminando, em muitos casos, na exclusão de vários deles do mercado de trabalho.

Um dos pontos muito interessantes do estudo é a defesa de um conjunto de estratégias para que seja criada uma agenda nacional capaz de abordar a inclusão produtiva em sua integralidade e complexidade. O levantamento traz recomendações para o fortalecimento do empreendedorismo no País a partir da criação de planos de ação mais efetivos e alinhados à inclusão produtiva. Destaco a indicação de criar um ambiente para o desenvolvimento de pequenos negócios — que dialoga com a necessidade de uma leitura crítica dos dados apresentados pelo Mapa de Empresas.

Sabemos que os empreendedores, urbanos e rurais, não encontram um ambiente propício para um crescimento sustentável. Entre os desafios que ilustram as dificuldades estão um cenário bem conhecido: serviços financeiros não adequados às reais necessidades, custos inviáveis, a distância dos consumidores que dificulta as entregas e barreiras para a venda a grandes compradores (públicos e privados). O estudo aponta que, para superar esses empecilhos, precisamos aproveitar as inovações já existentes e criar instrumentos para vencer as barreiras, como acesso a crédito e a novos mercados — incluindo o setor público.

Pensando nos desafios de venda desses novos empreendedores, um dos pontos relevantes é a inclusão digital. No Brasil, temos um gap muito grande de digitalização — um analfabetismo digital que compromete as vendas e a produtividade. Apoiar o letramento digital é, também, uma das formas de auxiliar essa geração que compõe o empreendedorismo forçado.

Maure Pessanha é empreendedora e diretora-executiva da Artemisia. Texto publicado originalmente no Blog do Empreendedor — Estadão PME.

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