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As atividades das empreendedoras foram drasticamente alteradas durante a pandemia, sobretudo porque elas tiveram que dedicar mais horas a tarefas associadas ao cuidado doméstico — que não são remuneradas. Como resultado, a atenção dada aos próprios negócios ficou sensivelmente comprometida.
Quando analisamos o contexto de impacto na capacidade empreendedora a partir da redução de horas dedicadas às empresas, do apoio desigual que o empreendedorismo feminino recebe por parte de governos e de instituições e da distribuição não equânime de tarefas entre homens e mulheres, vemos que houve um número maior de empresas femininas que fecharam as suas portas.
Essas são conclusões de uma análise do Banco Mundial — conduzida por Carmen de Paz, especialista em Desenvolvimento Internacional e Política Social; Isis Gaddis, economista sênior; e Miriam Muller, cientista social com Prática Global de Pobreza — que tem mostrado preocupação em uma possível retração nos avanços conquistados pelas empreendedoras nos últimos anos.
Houve, no período estudado, uma queda maior nas vendas e nos lucros das empresas lideradas por mulheres em 12 países pesquisados, de um total de 18 nações. Na prática, as empresas dirigidas por mulheres foram desproporcionalmente afetadas pela pandemia da covid-19; a ênfase desse impacto negativo recai para setores de hospitalidade (turismo, hotelaria) e varejo; e para as microempresas.
Os grandes retrocessos e impactos apontados pelo Banco Mundial aconteceram, de acordo com o levantamento, por três motivos:
1. Na América Latina e no Caribe, os setores com forte presença feminina (comércio, serviços pessoais, educação e hotelaria) registraram que 56% dos empregos foram perdidos entre maio e agosto de 2020. Essas são atividades mais atingidas pela crise sanitária, portanto isso pode ser uma das razões pelas quais os negócios femininos tivessem uma maior chance de fechar durante os estágios iniciais da pandemia.
2. As mulheres assumiram uma carga desproporcional de trabalho não remunerado — o que já ocorria antes da pandemia, mas que ganhou contornos maiores durante a crise –, trazendo um impacto econômico e social significativo. As funcionárias e empreendedoras pagaram um alto preço por assumir o fardo pesado de cuidados como o ensino doméstico dos filhos e as tarefas domésticas. De acordo com o Banco Mundial, essas atividades afetaram a capacidade de concentração e de dedicação no próprio trabalho e no empreendimento.
3. As empreendedoras tiveram menos apoio público, especialmente as microempreendedoras, para levar adiante o negócio. Na Etiópia, menos de 1% dos negócios femininos recebeu apoio governamental durante a pandemia.
Embora mais pesquisas sejam necessárias, o Banco Mundial avalia que o suporte às mulheres empreendedoras na retomada deve acontecer nos curto e longo prazos em três dimensões específicas. A primeira é atuar no financiamento para que os negócios não apenas sobrevivam, mas prosperem. Para isso, a organização anunciou duas novas iniciativas para melhorar o acesso de empreendedoras ao financiamento (capital-semente) e a mercados de e-commerce.
A segunda recomendação aborda a importância de investimentos na expansão de creches de qualidade e preços acessíveis. De acordo com análise, a oferta desses serviços de cuidado com as crianças é uma forma promissora de melhorar a participação da força de trabalho feminina e o aumento da produtividade. A pandemia, inclusive, reforça essa mensagem do cuidado infantil.
Já a terceira é a importância de remover os obstáculos legais que atrapalham a vida e impedem o estabelecimento, a administração e o crescimento dos negócios liderados pelas empreendedoras.
Diante dos impactos negativos, a recomendação do Banco Mundial é que esforços redobrados sejam empreendidos não somente para eliminar a disparidade de gênero, mas para garantir que elas não se ampliem.
Maure Pessanha é empreendedora e diretora-executiva da Artemisia. Texto publicado originalmente no Blog do Empreendedor — Estadão PME.
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