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É preciso combater a segregação e a pobreza espacial na mobilidade urbana

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A população brasileira em situação de vulnerabilidade social e econômica vive em áreas onde o preço da terra e o aluguel são mais acessíveis, contudo, distantes do centro. São periferias desprovidas de serviços de educação, segurança, saúde, áreas de lazer, sistemas de transportes e oportunidades de emprego. Enquanto isso, as áreas centrais abrigam os mais privilegiados. As distâncias física e social das grandes cidades transformam a locomoção em uma armadilha logística para os mais pobres.

Os impactos negativos são conhecidos: oferta limitada de empregos; aumento da disparidade de gênero — devido a riscos de violência e dificuldade de acesso ao transporte –; piora nas condições de vida por conta dos deslocamentos diários e os custos associados; incremento da exclusão e marginalização social; redução das formas de interação entre as classes sociais; e ampliação da possibilidade de violência e insegurança. Diante desse cenário, temos que falar sobre segregação e pobreza espacial ao discutir soluções que endereçam os desafios da mobilidade.

Um paper lançado pelo Questtonó Manyone destaca cinco reflexões para orientar negócios na criação de produtos e serviços dentro dessa complexa temática. O documento traz insights globais para promover as transformações que queremos e de que precisamos na mobilidade. De maneira sucinta, os princípios são:

1. Reduzir (emissões de gases poluentes para o mais próximo possível de zero)

2. Ajustar (para oferecer aos usuários escolhas confiáveis e flexíveis)

3. Conectar (o futuro da mobilidade se conecta com serviços para melhorar cada ponto de contato com o usuário)

4. Incluir (ser para todos)

5. Atrair (ser desejável para ser a escolha preferida do usuário)

Desses princípios, gostaria de destacar o incluir. A reflexão é que o custo da mobilidade deve ser acessível para todos e, ao mesmo tempo, ser intuitiva, segura e flexível para atender a diferentes idades e gênero, seja de forma individual ou em grupos. O conteúdo ressalta que tornar a mobilidade acessível não é apenas uma questão de conveniência, mas de demografia e potencial humano.

Na prática, as soluções projetadas devem ter a noção de inclusão no mais alto padrão, considerando diferentes condições dos usuários. E, aqui, estamos falando também dos que moram em locais menos acessíveis, ainda que urbanos. A diversidade cultural — que garante uma mobilidade inclusiva e segura — deve ser também uma norteadora das soluções.

A mensagem de democratização da mobilidade é muito clara, sobretudo porque não estamos falando apenas do transporte em si! Estamos falando de acesso a oportunidades, tais como trabalho e educação, que se abrem ao cidadão a partir de um serviço de qualidade e para todos.

Segurança é um outro item que deve ser considerado nessa construção de soluções, produtos e serviços, para que possamos viver, plenamente, as nossas capacidades físicas e mentais.

Para saber mais sobre as oportunidades de empreender e as tendências na temática, recomendo a leitura da Tese de Impacto Social em Mobilidade, conduzida pela Artemisia em parceria com a Ford Fund.

Maure Pessanha é empreendedora e diretora-executiva da Artemisia. Texto publicado originalmente no Blog do Empreendedor — Estadão PME.

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