O ecossistema de empreendedorismo de impacto social e ambiental tem se expandido nas periferias do Brasil. Neste artigo, gostaria de trazer como destaque exemplos de Norte e Nordeste. Antes, cabe ressaltar que essa movimentação de crescimento local dos negócios de impacto tem sido fruto do fortalecimento de uma agenda de impacto regional via ações conduzidas por coalizões formadas por organizações da sociedade civil, do governo, das empresas e dos investidores.
Uma das iniciativas recentes é o Lab NIP — Edição Norte-Nordeste, conduzido pela Articuladora de Negócios de Impacto da Periferia (Anip). A diversidade de atividades de empreendedorismo de impacto foi destaque neste programa de aceleração regional. Entre os selecionados há um estúdio de games que leva o universo nordestino para dentro dos jogos; um delivery sem preconceito dentro e fora da favela; uma solução de educação empreendedora para mulheres; um instituto que democratiza conhecimentos de ciência e tecnologia; uma iniciativa que transforma lixo em renda; e uma empresa que resgata e renova a tradição do artesanato da zona rural baiana.
Mangrove (Pernambuco), TrazFavela (Bahia), Vem Cá Mulher (Ceará), Instituto Nacional Leva Ciência (Amapá), Recicla Belém (Pará) e Grupo Raízes (Bahia) integram uma geração de empreendedores inovadores que ilustra a força criativa presente nos diferentes territórios do país.
A primeira iniciativa que destaco é a TrazFavela. Fundado na Bahia por Iago Santos e Ana Luiza Sena, o negócio é um delivery sem preconceito e de quase tudo, que gera renda para comerciantes e entregadores dos bairros periféricos da Bahia. Na prática, atua com o propósito de pegar itens dentro dos territórios e levar para fora — e de fora para dentro –, trazendo a possibilidade para que micro, pequenas e grandes empresas consigam escoar os produtos por toda a cidade.
Um outro exemplo do potencial baiano para o empreendedorismo social é o Grupo Raízes, fundado por Isabelly Assunção e Micheline Mesquita. O negócio de impacto nasceu com o propósito de transformar a realidade da comunidade do Riachão de Areia — zona rural de Taperoá, na Bahia — por meio do resgate e da valorização de saberes tradicionais, empoderamento e autonomia financeira das mulheres do campo, respeito e cuidado com o meio ambiente. Para tal, utiliza recursos naturais disponíveis na região e comercializa produtos artesanais sustentáveis, tendo como principais as mandalas de crochê, os aros de cipó, os incensários de vagem de árvores e a saboneteira vegetal, além da cestaria e esteira de taboa — um produto que ressurgiu depois de 30 anos e que carrega a ancestralidade e história da comunidade.
Em Pernambuco, destaco a empresa fundada por Rafael Nasper, a Mangrove Game Studio. O negócio é uma startup de games do Recife, que busca levar o universo nordestino para os jogos digitais. Na prática, traz representatividade regional e periférica para o mundo dos jogos — que é dominado pela cultura japonesa e norte-americana –, reduzindo desigualdades e combatendo preconceitos.
No Ceará, destaco Vem Cá Mulher. Fundada por Camila Flor de Liz, Tereza Furtado e Natanael Silva, trata-se de uma solução em educação que ajuda mulheres a empreenderem com mais coragem e autonomia, por meio de capacitações e rede de apoio, possibilitando a transformação de necessidades em oportunidades — mais empregos e/ou negócios. Com a atuação, contribui para equidade de gênero, inclusão social e econômica.
No Amapá, o destaque é o Instituto Nacional Leva Ciência, fundado por Aira Beatriz e Danielle Brito. Essa é uma instituição de ciência e tecnologia, sem fins lucrativos, que tem por objetivo a democratização da ciência entre crianças, adolescentes, jovens e profissionais de educação por meio de mentorias, eventos e projetos próprios que atendem pessoas em risco social.
Do Pará, uma solução que vale conhecer é o Recicla Belém. Fundado por Oziel Vanzeler, o negócio compra materiais recicláveis dos moradores da comunidade. Em parceria com o agente comunitário, batendo de porta em porta para orientar pessoas de todas as idades sobre o processo de separação do lixo orgânico e do reciclável, o negócio de impacto socioambiental mostra como ter retorno financeiro com o “lixo” — desenvolvendo renda, ocupação e união.
Para finalizar, cabe falar que a edição Norte-Nordeste do programa contou com 226 negócios inscritos, sendo 66,8% de empreendedores nordestinos e 30,5% nortistas. Mulheres, negras e nordestinas são maioria na liderança dos negócios inscritos: mais de 54% se autodeclararam mulheres cisgênero e, dentre elas, 91,7% se autodeclararam de raça negra (preta e parda). A maioria dessas mulheres lidera seus negócios na região Nordeste do País.
A análise dos setores de atuação mostra maior incidência em arte, cultura, microempreendedorismo e educação. Uma expansão consistente e que dialoga com a inclusão produtiva que tem sido liderada por empreendedores das periferias.
Maure Pessanha é empreendedora e presidente do Conselho da Artemisia. Texto publicado originalmente no Blog do Empreendedor — Estadão PME.
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