Dentro da perspectiva da sustentabilidade como um imperativo para os negócios na contemporaneidade, as empresas de tecnologia verde que atuam com um recorte de clima estão alterando, rapidamente, o cenário mundial. Se há uma década reduzir o impacto ambiental da atividade era uma demanda desejável para as organizações, hoje os líderes enfrentam uma pressão global por parte de funcionários, clientes, investidores e parceiros de negócios para que passem a agir de forma decisiva em prol das questões ambientais e do desenvolvimento sustentável.
Na minha opinião, essa é uma oportunidade enorme para um novo pensar e fazer, mediado pelos empreendedores e pelas empreendedoras de negócios de impacto socioambiental. Isso porque podem conectar seus produtos e serviços com companhias que precisam de suporte efetivo para se ajustarem aos princípios do ESG (princípios sociais, ambientais e de governança).
No estudo Construindo um negócio verde: lições de startups de sustentabilidade, a McKinsey & Company aponta que vivemos um ponto de inflexão. Primeiro, o preço do carbono está subindo enquanto o custo das energias renováveis continua caindo — o que torna essas soluções sustentáveis mais competitivas e, em alguns casos, mais baratas do que a energia tradicional.
Um segundo ponto é a pressão pública para tomarmos medidas decisivas para evitar a catástrofe climática, ou seja, precisamos de uma mudança real no comportamento das empresas para além dos discursos ambientalistas.
Como terceiro fator, o capital que está entrando e impulsionando o espaço da sustentabilidade. Encontrar startups e negócios de impacto social e ambiental que auxiliem as grandes companhias a fazerem a adequação a esse novo contexto tornou-se crítico para a sobrevivência das empresas. Hoje, é real o risco de serem deixadas para trás, enquanto os concorrentes constroem uma vantagem competitiva, figurando como “donos e construtores do futuro”.
Na leitura do estudo, achei bastante relevante o descritivo das características dos empreendedores que estão capturando as oportunidades:
1. Genuinamente movidos por propósito e paixão: o profundo senso de propósito é comum a startups disruptivas do setor de tecnologias climáticas; para muitos, essa crença ajuda, desde o início, quando o financiamento é escasso e a tecnologia ainda está sendo desenvolvida.
2. Profundo conhecimento tecnológico com ousada aspiração de futuro: o conhecimento aprofundado é uma característica disruptiva porque orienta e capacita o pensamento criativo, norteando também o conhecimento tecnológico. Esses empreendedores dominam as regras antes de quebrá-las e muitas das inovações consistem em uma outra forma de olhar para o processo.
3. Tecnologia transversal: poucos empreendedores disruptivos trabalham sozinhos para resolver problemas intransponíveis; a maioria deles tem como palavra-chave a colaboração. A capacidade de atrair talentos para a empresa é uma das características marcantes e decisivas para combinar tecnologias a partir de conhecimentos distintos dos profissionais. Estamos falando em atrair tecnologias complementares e colaborar com pessoas e empresas que preenchem as lacunas de conhecimento especializado.
4. Forte empoderamento e tomada de risco: uma crença comum é que as organizações maiores e tradicionais lutam para desenvolver ou se apoderar de tecnologia disruptiva — e que por serem avessas ao risco, esse se torna um desafio. Ao almejar a previsibilidade, inovar se torna quase inexequível. Ao contrário disso, os empreendedores disruptivos abraçam o risco: tanto pessoal quanto sistêmico.
5. Mentalidade de testar e tentar a uma velocidade vertiginosa: embora haja a visão de onde se quer chegar, o empreendedor disruptivo entende que deve abraçar a mentalidade de testar e ser ágil na correção de eventuais problemas. A abordagem é de tentativa e erro até se chegar à melhor solução.
Em linhas gerais, o estudo mostra claramente que existe um movimento marcado pela mudança da relação das empresas e do capital privado com o meio ambiente. Nesta nova lógica, a percepção é a de que o impacto ambiental deve caminhar atrelado à estratégia central do negócio. A externalidade ambiental negativa — que, antes, era mitigada — passa a abrir espaço para a geração de impacto ambiental positivo integrado aos negócios. O futuro integra, de maneira sistêmica e estratégica, a economia e o meio ambiente.
Maure Pessanha é empreendedora e presidente do Conselho da Artemisia. Texto publicado originalmente no Blog do Empreendedor — Estadão PME.
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