O negócio de impacto social desenvolve roteiros e vivências em 18 países e 145 cidades brasileiras
Com o intuito de fortalecer as instituições de memória no território da Pequena África — região central do Rio de Janeiro, local do sítio arqueológico Cais do Valongo, Patrimônio Cultural Mundial pela Unesco e principal porto de entrada de africanos escravizados no Brasil –, o Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES) assinou, em agosto de 2024, um contrato de financiamento de R$ 10 milhões com uma coalizão de organizações negras. O consórcio que recebeu o aporte é formado pelo Centro de Articulação de Populações Marginalizadas (CEAP), PretaHub e Diaspora.Black. O objetivo do banco é que o investimento total do projeto Viva Pequena África chegue a R$ 20 milhões por meio de recursos captados via doadores.
O papel da Diaspora.Black no fortalecimento de soluções afrocentradas não é de hoje.
Essa plataforma inovadora conecta pessoas e empresas a experiências e soluções afrocentradas desde 2016, quando foi fundada por Carlos Humberto Silva Filho, Antônio Pita e André Ribeiro. Com foco no afroturismo, diversidade e inclusão, o negócio atua em duas frentes: B2C (business to consumer) — oferecendo vivências culturais, hospedagens e roteiros turísticos que valorizam o patrimônio afro-brasileiro –, e B2B (business to business), fornecendo agenciamento de viagens, organização de eventos corporativos e treinamentos especializados em Diversidade e Inclusão (D&I).
Em conversa com Carlos Humberto, ele contou que para consumidores, a Diaspora.Black proporciona experiências autênticas que vão de visitas guiadas a quilombos e terreiros até roteiros históricos — como o passeio pela Pequena África, no Rio de Janeiro. “Nossas hospedagens são selecionadas cuidadosamente, promovendo o desenvolvimento econômico das comunidades negras. O portfólio B2B inclui serviços completos para empresas, como logística de viagens, produção executiva de eventos e a venda de treinamentos voltados para a implementação de políticas de diversidade e inclusão. Por meio desses treinamentos, ajudamos organizações a desenvolver culturas empresariais mais inclusivas e a enfrentar os desafios do ambiente corporativo atual”, aponta.
Com sede em São Paulo, o negócio fundado no Rio de Janeiro já impactou diretamente — com suas ações em afroturismo — 40 mil pessoas; as vivências que conectam os turistas às raízes afrodescendentes compreendem 18 países e 145 cidades brasileiras. Com um público majoritariamente feminino (60%) com idades entre 25 e 45 anos, a maioria dos clientes possui ensino superior (85%) e vem das regiões Sudeste (50%) e Nordeste (30%) do Brasil. Cerca de 70% dos turistas viajam em grupo, com interesse em explorar a cultura afro-brasileira e fortalecer suas conexões com suas raízes ancestrais. Com efeito na inclusão produtiva, a empresa possui parceria com 500 empreendedores locais com uma atuação que impacta diretamente no desenvolvimento sustentável das comunidades.
Entre 2019 e 2023, segundo Carlos Humberto, o negócio teve um crescimento significativo: 69 vezes nas reservas. “Nos últimos cinco anos, tivemos uma alta de mais de 15.495% no faturamento de anunciantes, reforçando o potencial do afroturismo como uma plataforma de impacto cultural e econômico”, salienta o empreendedor, acrescentando que os resultados comprovam que o afroturismo — aliado à valorização das culturas afro-brasileira e africana — não apenas cria experiências transformadoras para os turistas, como também gera impacto positivo nas comunidades, fortalecendo o negócio como um importante motor de desenvolvimento sustentável.
Para 2025, os empreendedores planejam expandir a atuação para outros países da diáspora africana, com a oferta de experiências afroturísticas em lugares como África, Estados Unidos e América Latina. Além disso, devem lançar um projeto de Inteligência Artificial — o AfroAI –, para recomendar roteiros turísticos e culturais, ampliando o acesso ao turismo afrocentrado no mundo. “Queremos fortalecer ainda mais as parcerias com quilombos e comunidades tradicionais, oferecendo novas experiências que conectam os turistas com suas raízes”, afirma, acrescentando que a expectativa para o próximo ano é elevar o faturamento para chegar a R$ 6 milhões.
Voltando ao tema do projeto com o BNDES para fechar a conversa, o objetivo da Diaspora.Black — dentro desse consórcio e de maneira bastante colaborativa — é desenvolver economicamente o território da Pequena África, tendo o afroturismo como um dos vetores econômicos locais. “Essa iniciativa reforça a nossa missão de conectar turismo e impacto social, criando oportunidades econômicas para as comunidades negras locais”, salienta Carlos Humberto.
Maure Pessanha é empreendedora e presidente do Conselho da Artemisia. Texto publicado originalmente no Blog do Empreendedor — Estadão PME.