Artemisia

A trajetória de Michelle Obama mostra como se liderar como uma mulher

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Em evento na Dinamarca em abril, ex-primeira-dama dos EUA falou sobre como o nosso ‘ser em construção’ não deve se esgotar em um processo finito

Por Maure Pessanha*

 

Sempre busco inspiração em mulheres que lançam um olhar inovador e geram insights preciosos. Vivenciei, claramente, essa experiência ao assistir a uma palestra de Michelle Obama na Dinamarca, no início de abril. Em turnê para divulgar a autobiografia Minha História, a ex-primeira-dama dos Estados Unidos compartilhou muito mais do que meros relatos sobre a própria trajetória. Com profunda honestidade e empatia, dividiu com os presentes os aprendizados conquistados não como uma das mulheres mais influentes do mundo, mas como filha, mãe, esposa e cidadã.

Essa líder mundial falou sobre a importância de encontrarmos a nossa voz — onde quer que se esteja vivendo –; do poder da educação para transformar a realidade; da relevância das oportunidades iguais para meninas e meninos; da determinação e da ambição necessárias para lutar pelo sonho; e do poder da alegria e do humor na superação dos desafios.

Impossível não associar esses ensinamos de Michelle Obama à forma de liderar feminina; em especial, à maneira como as empreendedoras sociais brasileiras estão transformando o Brasil. Um dos pontos potentes da narrativa dela, na minha opinião, é o fato de defender que qualquer pessoa, de qualquer lugar e classe social tem potencial para realizar o próprio sonho. Claro que com muita determinação, esforço e os apoios certos.

A ambição, no sentido mais nobre da palavra, traz a perspectiva da concretude do sonho. A vida de Michelle é um testemunho da ambição construtiva e direcionada para alimentar o desenvolvimento da coletividade. Como mulher da classe trabalhadora, crescida em um ambiente sem privilégios de Chicago, ela tomou as rédeas do próprio destino — à base de muitos sacrifícios e escolhas difíceis — para construir uma vida que concilia trabalho (incluindo social), família, amigos e amor.

 

Maure Pessanha, da Artemisia, e Michelle Obama, na Dinamarca, em abril. Foto: Acervo pessoal

 

Os desafios que vivenciou — foi chamada de “mulher-negra-raivosa”, sorriu para fotos ao lado de pessoas que classificavam Barack Obama de nomes impronunciáveis, lidou com um congressista que fez piada pública sobre seu corpo, para citar somente alguns poucos episódios lamentáveis — são muito similares aos enfrentados pelas empreendedoras. O tempo todo, lidamos com o olhar desconfiado de “homens de negócio” que duvidam da nossa capacidade de execução. Mas, diante do propósito e do significado de empreender com impacto social, as brasileiras seguem adiante, entendendo que essa desconfiança é parte de um processo doloroso e maior de construção da própria voz. E da voz da transformação social.

No livro, ela fala desse “ser em construção” que não se esgota em um processo finito; algo que é muito pertinente para as mulheres empreendedoras. “Hoje em dia penso que essa é uma das perguntas mais inúteis que um adulto pode fazer a uma criança: o que ela quer ser quando crescer? Como se crescer fosse algo finito. Como se a certa altura você se tornasse algo e ponto final. Até agora, fui advogada. Fui vice-presidente de um hospital e diretora de uma ONG que ajuda jovens a construírem uma carreira significativa. Fui estudante negra da classe trabalhadora em uma faculdade de elite de maioria branca. Fui a única mulher, a única afro-americana em todos os tipos de ambientes. Fui a noiva, a mãe estressada de uma recém-nascida, a filha consternada pelo luto. E, até pouco tempo atrás, fui a primeira-dama dos Estados Unidos da América — emprego que não é oficialmente um emprego, mas que ainda assim me deu uma plataforma que eu jamais imaginaria ter”, afirma.

Como líder e mãe, falou sobre a importância de ter sempre as crianças por perto, porque trazem leveza, pureza, alegria. Elas colocam tudo em perspectiva, nos lembram de agir com integridade e orientadas por valores. De menina à mulher madura com filhas adolescentes, Michelle Obama tem sido de uma inspiração ímpar. Ela tem nos mostrado o caminho de como liderar como uma mulher.

 

  • Maure Pessanha é coempreendedora e diretora-executiva da Artemisia, organização pioneira no fomento e na disseminação de negócios de impacto social no Brasil.
  • Texto publicado originalmente no Blog do Empreendedor — Estadão PME.

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Em evento na Dinamarca em abril, ex-primeira-dama dos EUA falou sobre como o nosso ‘ser em construção’ não deve se esgotar em um processo finito

Por Maure Pessanha*

 

Sempre busco inspiração em mulheres que lançam um olhar inovador e geram insights preciosos. Vivenciei, claramente, essa experiência ao assistir a uma palestra de Michelle Obama na Dinamarca, no início de abril. Em turnê para divulgar a autobiografia Minha História, a ex-primeira-dama dos Estados Unidos compartilhou muito mais do que meros relatos sobre a própria trajetória. Com profunda honestidade e empatia, dividiu com os presentes os aprendizados conquistados não como uma das mulheres mais influentes do mundo, mas como filha, mãe, esposa e cidadã.

Essa líder mundial falou sobre a importância de encontrarmos a nossa voz — onde quer que se esteja vivendo –; do poder da educação para transformar a realidade; da relevância das oportunidades iguais para meninas e meninos; da determinação e da ambição necessárias para lutar pelo sonho; e do poder da alegria e do humor na superação dos desafios.

Impossível não associar esses ensinamos de Michelle Obama à forma de liderar feminina; em especial, à maneira como as empreendedoras sociais brasileiras estão transformando o Brasil. Um dos pontos potentes da narrativa dela, na minha opinião, é o fato de defender que qualquer pessoa, de qualquer lugar e classe social tem potencial para realizar o próprio sonho. Claro que com muita determinação, esforço e os apoios certos.

A ambição, no sentido mais nobre da palavra, traz a perspectiva da concretude do sonho. A vida de Michelle é um testemunho da ambição construtiva e direcionada para alimentar o desenvolvimento da coletividade. Como mulher da classe trabalhadora, crescida em um ambiente sem privilégios de Chicago, ela tomou as rédeas do próprio destino — à base de muitos sacrifícios e escolhas difíceis — para construir uma vida que concilia trabalho (incluindo social), família, amigos e amor.

 

Maure Pessanha, da Artemisia, e Michelle Obama, na Dinamarca, em abril. Foto: Acervo pessoal

 

Os desafios que vivenciou — foi chamada de “mulher-negra-raivosa”, sorriu para fotos ao lado de pessoas que classificavam Barack Obama de nomes impronunciáveis, lidou com um congressista que fez piada pública sobre seu corpo, para citar somente alguns poucos episódios lamentáveis — são muito similares aos enfrentados pelas empreendedoras. O tempo todo, lidamos com o olhar desconfiado de “homens de negócio” que duvidam da nossa capacidade de execução. Mas, diante do propósito e do significado de empreender com impacto social, as brasileiras seguem adiante, entendendo que essa desconfiança é parte de um processo doloroso e maior de construção da própria voz. E da voz da transformação social.

No livro, ela fala desse “ser em construção” que não se esgota em um processo finito; algo que é muito pertinente para as mulheres empreendedoras. “Hoje em dia penso que essa é uma das perguntas mais inúteis que um adulto pode fazer a uma criança: o que ela quer ser quando crescer? Como se crescer fosse algo finito. Como se a certa altura você se tornasse algo e ponto final. Até agora, fui advogada. Fui vice-presidente de um hospital e diretora de uma ONG que ajuda jovens a construírem uma carreira significativa. Fui estudante negra da classe trabalhadora em uma faculdade de elite de maioria branca. Fui a única mulher, a única afro-americana em todos os tipos de ambientes. Fui a noiva, a mãe estressada de uma recém-nascida, a filha consternada pelo luto. E, até pouco tempo atrás, fui a primeira-dama dos Estados Unidos da América — emprego que não é oficialmente um emprego, mas que ainda assim me deu uma plataforma que eu jamais imaginaria ter”, afirma.

Como líder e mãe, falou sobre a importância de ter sempre as crianças por perto, porque trazem leveza, pureza, alegria. Elas colocam tudo em perspectiva, nos lembram de agir com integridade e orientadas por valores. De menina à mulher madura com filhas adolescentes, Michelle Obama tem sido de uma inspiração ímpar. Ela tem nos mostrado o caminho de como liderar como uma mulher.

 

  • Maure Pessanha é coempreendedora e diretora-executiva da Artemisia, organização pioneira no fomento e na disseminação de negócios de impacto social no Brasil.
  • Texto publicado originalmente no Blog do Empreendedor — Estadão PME.

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