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O empreendedorismo de impacto social está avançando rapidamente no Brasil. Na última década, demonstrou o enorme potencial para auxiliar o país a enfrentar os desafios da equidade social com inovação, escala e competitividade. Na jornada para desenvolver o ecossistema, podemos registrar evoluções significativas na maturidade dos negócios e dos empreendedores; vemos o aumento da participação de fundos investindo focados em impacto, o surgimento de parcerias ganha a ganha entre startupsde impacto e empresas tradicionais para gerar inovação aberta com impacto; a inclusão de empreendedores sociais mostrando a potência criativa nas periferias do país; mulheres construindo negócios lucrativos e inovadores; e visionários construindo um novo capitalismo. A análise da trajetória — nos mais diversos setores — mostra que temos todas as credenciais para nos tornarmos um polo mundial da indústria. Não se trata de otimismo, mas de uma visão pragmática, baseada na evidência de uma evolução consistente.
A internacionalização de muitos negócios brasileiros é uma das faces visíveis do amadurecimento do mercado. Os congressos e simpósios para debater os investimentos e modelos de negócios; o volume de talentos migrando suas carreiras; e a taxa de sucesso dos negócios são outros indícios consistentes. Quando o tema recai para o mercado de investimento de impacto no Brasil — em 2008 foi criado o primeiro fundo com esse foco –, comprovamos essa consistência evolutiva, sobretudo nos últimos cinco anos. O setor tem atraído a atenção de investidores de venture capital, investidores-anjo, fundos familiares e investidores internacionais.
Hoje, atuamos em um mercado latino-americano que tem se consolidado e crescido. De acordo com levantamento da ANDE (Aspen Network of Development Entrepreneurs) realizado com base em 67 investidores entrevistados, o total de ativos sob gestão alocado para investimentos de impacto na América Latina — entre 2016 e 2017 — é estimado em US$ 4,7 bilhões. No Brasil, US$ 131 milhões foram investidos em 69 operações. A boa notícia do mapeamento é que os investidores entrevistados esperam aumentar o capital disponível para o impacto na região em US$ 2 bilhões até o final de 2019. No nosso país, esperam investir US$ 236 milhões — com expectativa de retornos anuais líquidos de 11% ou mais –, sendo os setores-alvo agricultura, inclusão financeira, educação, energia e saúde.
Analisando o panorama completo e complexo dos negócios de impacto social no Brasil, embora seja inegável a evolução do ecossistema, os desafios para irmos adiante são diversos. Há muitos desafios para garantir não só a mensuração do impacto social e ambiental dos negócios, mas também a gestão desse impacto ao longo do ciclo de crescimento das empresas. A contratação de negócios de impacto pelo governo, que poderia ser uma estratégia de impacto e escala para muitos negócios, enfrenta barreiras estruturais que envolvem a contratação de inovações do nosso país. Além disso, a participação do investimento de impacto no fluxo de capital global é ainda muito pequena e o ecossistema carece de diversidade regional, socioeconômica, de gênero e racial no perfil dos empreendedores. Mas, são exatamente essas barreiras que ainda precisam ser vencidas que nos dão motivação para continuar trabalhando por esta causa. Os desafios sociais são complexos, o que demanda novos arranjos institucionais para atuação efetiva. Por isso, os negócios de impacto somados ao trabalho de organizações da sociedade civil, governos e empresas, podem ser uma alternativa concreta para a mudança de nosso país.
- Maure Pessanha é coempreendedora e diretora-executiva da Artemisia, organização pioneira no fomento e na disseminação de negócios de impacto social no Brasil.
- Texto publicado originalmente na versão impressa da revista Pequenas Empresas e Grandes Negócios.
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