A ausência de endereço formal é um fator de exclusão, e a empresa naPorta tenta democratizar o processo de entregas em áreas carentes
Maure Pessanha
Ago/23
Apoiar o desenvolvimento tecnológico, a pesquisa e a inovação nos países em desenvolvimento, garantindo um ambiente político propício para que, entre outras coisas, haja diversificação industrial e agregação de valor às commodities está no centro do nono Objetivo de Desenvolvimento Sustentável. A visão do ODS #9 abarca a importância de construir infraestruturas resilientes, promover a industrialização e fomentar a inovação dentro de uma perspectiva do impacto social positivo, levando em consideração a Agenda 2030.
No Brasil, a naPorta é um dos negócios de impacto social que endereçam o desafio de usar a tecnologia em prol da cidadania.
Fundada em 2021 por Sanderson Pajeú, Leonardo Medeiros, Rodrigo Yanez e Katrine Scomparin, a naPorta iniciou sua operação alinhada ao modelo Last Mile, atuando em áreas com dificuldade de acesso. Hoje, atua com uma nova logística nessas regiões, entregando de tudo, para todos.
O negócio de impacto social é um Logistic as a Service que oferece uma solução completa para os clientes: do Cross Docking, Last Mile, Middle Mile e Reversa até a entrega agendada e ponto de retirada, tendo por recursos uma tecnologia de ponta a ponta.
A empresa está alinhada à missão de democratizar o processo de entregas, aportando conveniência e digitalização, independentemente da região na qual a pessoa reside.
Conversando com a empreendedora Katrine Scomparin, ela conta que o propósito dos sócios é ampliar a cidadania e a inclusão social por meio da viabilização das entregas das compras on-line feitas pelos moradores das comunidades e regiões com restrição. Na essência, os empreendedores inserem comunidades no mapa do e-commerce, conectando moradores desses territórios ao mundo digital; empoderando residentes, empreendedores e compradores dentro das favelas e periferias; e diminuindo o abismo social entre regiões menos urbanizadas e o asfalto.
Sabe-se que a ausência de endereço formal é um fator de exclusão. A qualificação “área de risco”, usada para classificar muitos dos territórios sem o CEP, aprofunda a desigualdade. Para mudar esse cenário e contribuir com a missão de trazer mais cidadania aos moradores de periferias, a naPorta mapeará cerca de 20 favelas em São Paulo e criará 10 mil endereços digitais por meio de uma tecnologia que permite converter as coordenadas de latitude e longitude — normalmente informadas pelo GPS para localizar endereços — em Plus Codes (códigos curtos semelhantes aos códigos postais).
Para citar um exemplo, utilizando o Plus Codes — tecnologia de código aberto desenvolvida pelo Google e integrada ao Google Maps –, a naPorta fez com que as Favelas dos Sonhos, Itaprata, Cidade de Deus, Tubulação, na região de Ferraz de Vasconcelos (São Paulo), e Vila Morais, em São Bernardo do Campo, passassem a ter 100% dos endereços mapeados digitalmente para 1.300 endereços impactando cerca de 5.200 pessoas. A iniciativa contou com a parceria do Google (tecnologia), da Artemisia e Fundação Grupo Volkswagen, que deu apoio à implementação do endereço virtual e desenvolvimento do negócio por meio do programa de inovação aberta ImpactaMOB.
Sanderson Pajeú — um dos fundadores da naPorta e que cresceu na comunidade do Itaim Paulista (zona leste de São Paulo) — conta que a maior dificuldade dos brasileiros que não têm CEP é ter acesso a serviços básicos similares aos oferecidos aos que moram no asfalto.
“Estou falando de entregas de e-commerce, remédios, alimentação e até serviços essenciais como água e saneamento. Com os endereços digitais, os moradores dessas favelas podem informar o código e ter acesso a qualquer serviço compatível com essa tecnologia”, detalha, acrescentando que o time responsável pela operação é formado por pessoas da própria comunidade, que foram contratadas.
Na prática, um impacto de inclusão produtiva que faz a economia local ser fomentada.
Entre os impactos positivos gerados pelo negócio, destaque para o ambiental — 80% dos entregadores da naPorta utilizam bicicleta, sem emissão de carbono — e o social, tanto na vertente da inclusão cidadã quanto pela capacitação e contratação de profissionais das próprias comunidades para atuarem na startup.
Desde 2022, a naPorta realizou mais 100 mil entregas e movimentou a economia local das comunidades onde atua, injetando mais de R$ 600 mil nos territórios. Hoje, a iniciativa foi ampliada e já impactou mais de 1,6 milhão de pessoas.