[:pt]
No Brasil, os empreendedores de impacto social enxergam as dores e os desafios das pessoas em situação de vulnerabilidade econômica há mais de uma década. Com expertise e profunda empatia, eles têm transformado a forma de fazer negócios ao desenvolverem soluções que visam, justamente, amenizar os problemas enfrentados pela população de menor renda.
Diante do impacto da pandemia na economia — e em um momento no qual a inovação social assume uma importância gigantesca –, o papel dos investidores e articuladores do ecossistema de negócios de impacto social é decisivo para dar suporte a essas lideranças empreendedoras.
Para analisar o impacto da crise sanitária nos negócios, sobretudo os que atuam nas periferias e com públicos vulneráveis, a Artemisia conduziu um levantamento com 69 empreendedores do portfólio de acelerados; a proposta era entender quais são as principais demandas para a sobrevivência dos negócios, em especial, aqueles em estágio inicial. Esse mapeamento com múltiplas respostas mostrou que, entre os principais desafios do momento, estão a remuneração das equipes (62%), o faturamento e capital de giro (61%) e a remuneração dos sócios — ou pró-labore (40%).
Sobre o aporte de eventuais recursos, a maioria respondeu que usaria o investimento para remuneração da equipe (66%); no pagamento de contas essenciais (46%); e na aquisição de insumos e equipamentos (43%). Para 60% dos empreendedores ouvidos pela organização, o impacto negativo — na perspectiva de sobrevivência do negócio frente à pandemia — foi imediato.
Com a visão da urgência em dar suporte aos empreendedores, a Articuladora de Negócio de Impacto da Periferia (Anip) — resultado da parceria entre A Banca, Artemisia e FGVcenn — e o Banco Pérola firmaram uma aliança estratégica para conceder crédito com juro zero para 55 negócios periféricos. O fundo emergencial Volta por Cima está fazendo aportes com apoio de doações da Potencia Ventures, Fundação ARYMAX, Instituto Humanize, Fundação Tide Setubal, Instituto Vedacit, Votorantim Cimentos, Tigre e Instituto Carlos Roberto Hansen (ICRH), Gerdau, Instituto de Cidadania Empresarial (ICE), Instituto C&A, Fundação Telefônica Vivo, B3 Social e INSEAD Alumni Association Brazil.
Cada negócio selecionado recebeu R$ 15 mil, que poderão ser pagos em até 12 parcelas sem juros, com carência de seis meses; à medida que os empréstimos forem quitados, o fundo passa a ter a possibilidade de apoiar, no futuro, novos negócios. Entre os selecionados para receber o investimento, estão as empresas Da Tribu e Pappo Consultoria.
Negócio de impacto socioambiental fundado em 2009 pela artesã Kátia Fagundes, Da Tribu atua no mercado de moda sustentável, utilizando insumos da floresta. Os seringueiros e seus familiares, cerca de 30 pessoas da Comunidade Extrativista de Pedra, Área de Proteção Ambiental (APA) da Ilha de Cotijuba (uma das 42 que integram o arquipélago de Belém, no Pará), são parte da cadeia produtiva da empresa — que conta com a coordenação de Tainah Fagundes, filha da fundadora.
Essa produção familiar é responsável pela extração do látex e a produção dos fios emborrachados. Alinhadas ao conceito de economia da floresta em pé, as empreendedoras têm por missão fazer da moda da floresta um caminho sustentável para tecer o futuro, gerando prosperidade e transformação social. Entre os valores, criar peças autênticas com beleza, sofisticação, criatividade e força da liberdade feminina.
São colares, pulseiras, brincos, anéis e uma infinidade de peças únicas produzidas para gerar impacto socioambiental positivo. Com o recurso do Volta por Cima, a empreendedora pretende manter a compra de insumos produzido pela comunidade extrativista — para garantir a continuidade do impacto positivo gerado –, além de desenvolver novos produtos e investir em marketing.
Já a Pappo é uma consultoria financeira, contábil e de recursos humanos que presta atendimento personalizado com foco na prosperidade dos clientes. Fundada pela Erika Damasceno e pelo Carlos Norberto Ribeiro, profissionais de empresas privadas que, ao vivenciarem o racismo em suas trajetórias, decidiram usar os próprios conhecimentos em prol dos negócios periféricos de São Paulo.
A visão do negócio é que o sucesso dos clientes resulta na diminuição das desigualdades sociais e raciais, aumentando o empoderamento econômico local. Inspirados pela palavra “papó” (juntos, em iorubá) e papo (diálogo, na Língua Portuguesa), os empreendedores acreditam que a união é essencial para crescer e prosperar. Parte dos recursos do fundo será utilizada na condução de uma campanha de apoio aos clientes do negócio — os que precisam reduzir, ainda mais, o honorário pago à consultoria. Ou seja, apoio para que possam continuar a contar com o suporte da Pappo, sem comprometer o caixa.
Em uma perspectiva de futuro, é bastante arriscado estimar o que vamos vivenciar dentro dos próximos meses — dado o cenário turvo em que nos encontramos. Entretanto, acredito que o fortalecimento do empreendedorismo de impacto periférico será cada vez mais necessário para conter a escalada de pobreza e da escassez econômica em um País durante e pós-pandemia.
Com aporte financeiro, mentorias e conteúdos relevantes, as condições se tornam mais favoráveis para que esses empreendedores continuem as próprias jornadas e possam permanecer como fonte de empregos e renda, gerando impacto positivo e apoiando as economias locais.
Maure Pessanha é empreendedora e diretora-executiva da Artemisia. Texto publicado originalmente no Blog do Empreendedor — Estadão PME.
Você é empreendedor(a) de um negócio que gera impacto positivo?
Pensando nos desafios que os(as) empreendedores(as) enfrentam para mensurar o impacto de suas soluções, nós da Artemisia nos juntamos à Agenda Brasil do Futuro e à Move Social para lançar o Guia Prático de Avaliação para Negócios de Impacto Social, disponível para download gratuito AQUI.
[:]