Diversidade na construção do futuro do trabalho e do empreendedorismo

Fórum Econômico Mundial tem defendido que os líderes empresariais devem assumir mais responsabilidades na construção de uma sociedade com maior justiça social. Um pilar norteador, na análise da organização, é a adoção de uma abordagem integrada para garantir diversidade, equidade e inclusão nos ambientes profissionais.

Para apoiar as lideranças nessa construção, o órgão lançou o conteúdo Diversity, Equity and Inclusion 4.0 — A toolkit for leaders to accelerate social progress in the future of work (Diversidade, Equidade e Inclusão 4.0: kit de ferramentas para líderes acelerarem o progresso social no futuro do trabalho). A proposta do compilado — disponibilizado para download gratuito em junho de 2020 — foi descrever as novas tecnologias com potencial de estabelecer as melhores práticas e destacar os novos sistemas que podem reduzir vieses inconscientes na contratação e introduzir maior transparência e visibilidade para construir locais de trabalho mais justos, equitativos e diversos.

Óbvio que as grandes empresas têm um papel importante a desempenhar nesta questão, mas o desafio de construir uma sociedade inclusiva deve ser abraçado por todos, inclusive pelos diferentes atores dentro do ecossistema de empreendedorismo. Indo além das contratações que garantam diversidade, é gritante a necessidade de representatividade de quem lidera as empresas.

No Brasil, vemos frequentemente empreendedores brancos ilustrando as capas dos principais veículos de comunicação do País; constatamos, ano após ano, que as listas dos novos ‘unicórnios’ seguem sem representatividade. Em 2019, por exemplo, a lista foi composta 100% por homens brancos, embora a nação seja formada por mais de 50% de negros e pardos, e mais de 51% de mulheres, de acordo com o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE). Há, claramente, algo que precisa mudar nessa fotografia.

Um mapeamento conduzido pela PretaHub — hub de criatividade, inventividade e tendências pretas, que concentra o trabalho do Instituto Feira Preta — mapeou o afroempreendedorismo no País. Em parceria com Plano CDE e JP Morgan, o levantamento mostrou que 81% dos entrevistados se identificam como pardos e 52% são mulheres. Em comum, eles têm barreiras para obter crédito e gerir as finanças, além de enfrentarem a falta de apoio no planejamento e na administração de negócios.

Em uma perspectiva propositiva, a responsabilidade de fortalecer as iniciativas desses empreendedores é de cada membro da sociedade. E como podemos fazer isso? Adquirindo produtos e serviços de empreendedores negros; investindo em negócios liderados por eles; e fortalecendo-os em programas de apoio e aceleração. No último processo seletivo conduzido pela Artemisia — em parceria com A Banca e FGVcenn –, mais de 60% dos negócios selecionados e apoiados eram liderados por empreendedores autodeclarados negros ou pardos; e mais de 40% são negócios fundados ou liderados por mulheres.

Por parte dos empreendedores, acredito que um caminho é olhar para as próprias equipes e ter a diversidade como um valor inegociável. A Tese de Impacto Social em Empregabilidade mostra que trabalhar a real inclusão é uma forma de combater e corrigir injustiças, além de ser uma grande oportunidade para os negócios.

Reitero a defesa de Saadia Zahidi, diretora-administrativa do Fórum Econômico Mundial, quando diz que as organizações bem-sucedidas e inovadoras são aquelas alimentadas pela diversidade de opiniões, habilidades e experiências de vida. Garantir justiça social, paridade de gênero, inclusão das pessoas com deficiência, das pessoas LGBTQI+ e respeito à diversidade humana precisa ser o ‘novo normal’ que deve emergir da crise provocada pela covid-19.

 

Artigo Publicado no Estadão PME